Mais qualidade na merenda escolar

05/01/2007

No município de Capim Grosso, distante 287 km de Salvador, dezenas de mulheres estão contribuindo para levar uma alimentação de qualidade para crianças e adolescentes, através da merenda escolar. "O nosso papel é fazer chegar os nossos produtos nas escolas e assim ajudar na geração de renda das produtoras rurais do município", afirma Maria de Lurdes, Presidente do Conselho da Merenda Escolar.

O Conselho da Merenda Escolar tem como finalidade assessorar o governo municipal na execução do Programa de Assistência e Educação Alimentar junto aos estabelecimentos de educação pré-escolar e de ensino fundamental mantidos pelo município. Participam do conselho representes da sociedade civil e poder público com o objetivo de fiscalizar e controlar a aplicação dos recursos destinados à merenda escolar, além de promover a elaboração dos cardápios da alimentação, respeitando os hábitos alimentares do município e sua produção agrícola, dando a preferência aos produtos naturais. "Enquanto representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) sempre procuramos priorizar o que vem do campo. Mesmo diante das dificuldades as produtoras estão conseguindo fornecer a alimentação de acordo as suas possibilidades. Aqui o conselho não é submisso à prefeitura, ele tem autonomia para escolher e decidir", acrescenta Maria de Lurdes.

Atualmente cerca de nove grupos de produtoras estão fornecendo produtos para a merenda escolar. Dos produtos fornecidos os que mais se destacam é o bolo de leite e os biscoitos de goma. "Nesse período de seca é muito difícil fornecermos produtos oriundos da Agricultura Familiar, pois a nossa região fica muito prejudicada e não oferece condições para a colheita, mas, mesmo diante desse problema, continuamos a persistir no nosso trabalho", conta a produtora Maria Anunciação. Os grupos de produção do município são acompanhados pelo Projeto Prosperar que em parceria com o STR busca criar condições de melhoria da qualidade de vida das famílias e promover alternativas de geração de renda, através da capacitação, assistência técnica e crédito aos pequenos produtores.

"O trabalho desenvolvido pelos grupos é extremamente importante, pois além de contribuir na qualidade da alimentação escolar do município, as mulheres estão garantindo renda para suas famílias, o que já é bastante positivo", afirma Wellington da Silva, técnico do Prosperar. Para Maria Anunciação, coordenadora do grupo Tapioca na comunidade de Caiçara, muitos desafios precisam ser superados, dentre eles a concorrência comercial. "O preço dos supermercados é muito desafiador para nós, pois estamos organizados em cooperativa e isso exige muito. Os supermercados que fornecem não estão preocupados com nós e entregam a mercadoria a todo preço", conta.

Pedras no Caminho

Além da baixa remuneração que os grupos recebem por sua produção, outro desafio é a falta de nota fiscal. Antes, os grupos repassavam os produtos através do bloco de notas, conhecido também como nota do produtor rural, mas atualmente as produtoras estão filiadas a uma cooperativa que emite a nota, porém é preciso deixar uma porcentagem na cooperativa. "Nós repassamos as peças no valor de R$ 0,27 e recebemos R$ 0,20 através da cooperativa. Mesmo parecendo baixo, esse valor para nós é muito significativo, pois não temos outra solução já que não precisamos nos preocupar com a nota fiscal que está sendo resolvida através desse sistema", relata Maria Anunciação.

Uma pesquisa recém realizada pela Agência Mandacaru de Comunicação a respeito do consumo dos produtos da Agricultura Familiar nos município da Região Sisaleira, mostrou que o maior problema encontrado pelas associações e cooperativas da agricultura familiar é a nota fiscal. Dos entrevistados, 56% disseram que a falta de nota prejudica a aquisição dos alimentos, pois impossibilita a prestação de contas das Secretarias Municipais.

Com base na pesquisa, percebe-se que o segmento da agricultura familiar na Região Sisaleira ainda é pouco valorizado: Somente em 11% dos casos a merenda distribuída pelas Secretarias Municipais é composta predominantemente por produtos da agricultura familiar. 44% das Secretarias compram somente uma pequena parte dos alimentos (menos de 10% do total) da mão de agricultores familiares. Quando é feita a compra da agricultura familiar, são beneficiados principalmente os produtores do próprio município, seja de forma direta (61%) ou através de associações ou cooperativas locais de produção (17%), beneficiando um grande número de agricultores familiares. Boa parte das Secretarias (38%) respondeu que beneficia mais de 20 agricultores familiares com a compra direta dos seus produtos. Do total de 18 entrevistados, 39% responderam que as vantagens em se consumir produtos da agricultura familiar são por causa do fácil acesso, 28% por que os alimentos são saudáveis e não utilizam agrotóxicos, enquanto que 11% responderam que o baixo custo é o motivo pelo qual escolhem esses alimentos.