O mundo na visão de quem venceu o trabalho infantil

20/12/2006

Recentemente, crianças que fazem parte do projeto Baú de Leitura tiveram a oportunidade de viajar à Brasília para apresentar as mudanças que a prática da leitura crítica, prazerosa e contextualizada causou em suas vidas. São crianças que venceram o trabalho infantil e que levantam reflexões ao exporem a visão que possuem do mundo e o que esperam do futuro. Entre duas mil pessoas de várias regiões do país que participavam do encontro de avaliação do Ministério da Educação (MEC), o destaque ficou com as crianças da Região Sisaleira.

Mariana Cruz e Magna Araújo, com 14 e 15 anos respectivamente, nasceram na zona rural do município de Retirolândia e ainda crianças tinham que trabalhar para ajudar no pequeno orçamento da família. Elas realizavam trabalhos domésticos e na roça. Orgulhosa do projeto, Magna Araújo diz praticar muita leitura e que já leu mais de 30 livros. “O Baú é um espaço de aprendizado. Com ele, adquiri muitos conhecimentos”, afirma a jovem.

Quando questionadas sobre a forma como elas enxergam o mundo, as adolescentes demonstram preocupação, mas ao mesmo tempo esperança de que outros jovens possam ter a oportunidade de mudar de vida. No relato das adolescentes, a importância de que projetos como o Baú possam ser mantidos e cada vez mais melhorados. “A visão que eu tenho do mundo é muito ruim, principalmente em relação aos jovens que estão se prostituindo, se drogando. Nós temos que nos dedicar mais aos estudos, por que sem eles, não seremos ninguém na vida. Por isso que o projeto surgiu; para a gente não fazer as coisas erradas que estão ao nosso redor”, disse Mariana.

Entre as preocupações das adolescentes estão os assuntos como guerra, drogas, gravidez na adolescência e violência. No entanto, o desejo delas é o mesmo: A educação acima de tudo, como prioridade de todos e que o homem deva aprender a usar sua inteligência para praticar o bem.

No projeto, após realizarem a leitura, os alunos refletem em que o livro se relaciona com a realidade e ensinam o que aprenderam para outras crianças através de jornais, jograis, música e teatro. Tudo isso para que o aprendizado seja feito de maneira interessante e estimulante.

Ao lembrar dos livros que já leu Magna fala do título “Nosso filho” que trata da questão do aborto na adolescência. Ela diz ser contra o aborto e que todos têm o direito à vida. “Se não quer ter o filho, não procura. Agora se engravidou você tem que lutar pelo seu filho; é um fruto que está dentro de você e que tem direito à vida”, revela Magna.

Diante de tudo que foi revelado pelas adolescentes que venceram o trabalho infantil e que hoje têm a oportunidade de passar um pouco da experiência delas para outras pessoas, o desejo para os próximos anos não poderia ser diferente: A educação para todos e o respeito das diferenças.

“Espero que os governantes trabalhem mais a questão da educação e que crianças e jovens tenham mais acesso” Mariana Cruz

“Eu espero que cada vez mais a gente possa amar e respeitar as diferenças” Magna Araújo