“Não deixe o samba morrer”

16/08/2006

Em 1975 a cantora Alcione eternizava o sucesso "Não deixe o samba morrer". Trinta anos depois, ainda se pode encontrar grupos que preservam bem essas tradições no Território do Sisal. Mas, uma boa parte desses grupos apenas encara essa atividade como espaço teatral e não como símbolo que caracteriza sua própria origem.

Resgatando a origem - Na comunidade de Recanto, que fica a 18 km da sede do município de Serrinha, um grupo de idosos ainda conserva o samba. Composto por 18 pessoas é um dos grupos de samba de roda que impulsionou o Movimento da Quixabeira, nascido a partir de manifestações culturais e que tem como objetivo resgatar, divulgar e (re) valorizar os costumes e tradições da Região Sisaleira, dando ênfase às diversas manifestações culturais, como por exemplo, grupos de samba, reizados e brincadeiras infantis.

Para Maria José de Oliveira, Coordenadora do Grupo, “um dos objetivos é valorizar o que nossos pais, avós e familiares sempre fizeram construindo uma cultura diferente, mas que identificasse os nossos costumes. Queremos apostar que acreditar nos jovens é o mais correto a se fazer e por isso que hoje 06 jovens já fazem parte, afinal são eles que darão prosseguimento a nossas tradições”.
É nessa rede de força e coragem que a cultura regional resiste, construindo sonhos e fazendo a alegria de muita gente. Acreditar consiste em olhar para o que todo mundo estar vendo e enxergar algo diferente e é isso que essa gente faz. E é como diz a senhora Maria José, coordenadora e cantadeira “quero morrer num terreiro de samba, pois é o que mais gosto de fazer”.

Uma prosa sobre Cultura

A equipe do Giramundo conversou com componentes do grupo que iniciaram as atividades na década de 70, e mostra o relato de como é prazerosa e importante a preservação da cultura de um povo, suas conquistas, ideais, sonhos...
Em boa e animada prosa, Maria José de Oliveira, 60 anos, Coordenadora do Grupo do Recanto, Helena Meneses da Silva, 57 anos, Cantadeira e Maria Estelita de Lima, 56 anos, também cantadeira contaram um pouco suas histórias de vida e encanto.

Giramundo – Como nasceu o interesse em participar do Grupo de Sambadores do Recanto?

Maria José – “Nasceu da necessidade de resgatar a cultura que tinha sido esquecida pelo tempo, e o incentivo para tudo isso, vinham de pessoas e entidades que acreditavam nessa proposta e sabiam que valorizando a cultura local podiam resgatar a imagem de nossas comunidades, e hoje a gente consegue ver os jovens apostando nessa idéia, o que é bom, porque são eles que vão passar adiante nossas tradições”.

Helena Meneses – “Há vinte e oito anos que sambo pelo grupo e me sinto feliz, pois quando sambo estou junto dos amigos e das pessoas que gosto então faço com satisfação, e isso possibilita uma integração entre os nossos compadres, além do que nós já nos apresentamos em muitos lugares e isso é muito bom”.

Maria Estelita – “O surgimento do grupo do recanto nasceu a partir das rodas de conversa de nossos pais, e era uma festa só, as mulheres cantavam e os homens com cacetes batiam o feijão e o milho até conseguir debulhar todos os grãos, só depois que nós debulhávamos o restante de grãos que ficavam nas bajes e nos sabugos. Com essas ações foi que conseguimos dar seguimento a esse movimento e hoje por mais dificuldades que eu encontre pelo caminho, eu não desisto, só depois de morrer”.

Quais foram as maiores dificuldades encontradas?

Maria José – “Uma das maiores dificuldades que encontramos hoje é a falta de apoio financeiro, pois, toda produção é feita com o que arrecadamos entre os componentes, daí o porquê que não conseguimos mostrar nossa cultura, porque não temos condições de ir a outros lugares, a não ser quando temos entidades como o Movimento de Organização Comunitária (MOC) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Serrinha (STR) que nos possibilita isso”.

Maria Estelita – “Desde o inicio, a maior dificuldade é a falta de instrumentos, pois, o que nós temos não dá pra muito tempo, e como não temos condições de comprar, sempre temos que apelar para alguém que queira nos ajudar, mas, com a fé em Deus as coisas vão se arranjando, tem sempre um filho de Jesus que contribui com o grupo”.

Helena Meneses – “A maior dificuldade sempre foi integrar os jovens para estar junto conosco, pois, a maioria não quer saber de samba, mas eles precisam estar juntos, afinal são eles que farão isso quando a gente morrer”.

Quais as principais conquistas para a comunidade e em especial para vocês?

Maria Estelita – “Para mim é porque eu faço isso com prazer, pois é nosso e ninguém pode nos tirar, por isso, continuarei a fazer até quando as pernas derem para sambar, mas só precisamos de uma coisa: que as pessoas possam apenas valorizar e enxergar nosso trabalho”.

Helena Meneses – “Olhe, para mim, sambar e estar perto dos meus compadres e filhos já é muita coisa, e, para uma senhora já gasta pelo tempo tem coisa melhor? Tem não! Vou morrer fazendo isso, e eu tenho certeza que as pessoas da comunidade gostam muito também”.

Maria José – “É só satisfação, dançar, se animar, ficar com os amigos e familiares é muito bom, por isso que acredito que nossa cultura jamais vai morrer. E tenho certeza que nossa comunidade não vai esquecer e vai sempre motivar esse sonho”.