Metrópole e sertão trocando saberes

21/06/2006

Uma experiência singular tem movimentado a vida dos estudantes da Jornada Ampliada de Lagoa Grande, localizada no município baiano de Retirolândia, a 230 km de Salvador. Através do Projeto “E o lixo virou água”, desenvolvido por professores da Escola Estadual Maria Eulália, em São Paulo, estudantes de realidades bem diferentes estão tendo a oportunidade de se corresponder.

Tudo começou quando a TV Cultura de São Paulo divulgou uma reportagem realizada na Jornada Ampliada do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) de Lagoa Grande. A reportagem foi elaborada por que no ano de 2005 o Movimento de Organização Comunitária (MOC) ganhou o Prêmio Caixa Melhores Práticas em Gestão Local, devido ao trabalho desenvolvido na comunidade através do Programa de Educação do Campo.

Emiko Nakacima, professora da Escola Maria Eulália, se interessou pela matéria exibida e logo em seguida mobilizou os demais professores da escola a trabalharem a temática do Semi-árido na sala de aula. O projeto “E o lixo virou água” consiste em recolher todo material que pode ser vendido para reciclagem e o dinheiro arrecadado é destinado à construção de uma cisterna na Região do Sisal.

O lixo da cidade virando água no sertão

Com esse projeto, os alunos de São Paulo têm a oportunidade de conhecer o semi-árido não apenas através de livros didáticos, mas com o olhar de quem vive no dia-a-dia buscando construir alternativas de convivência com a seca. Segundo Antônio dos Santos, monitor da Jornada Ampliada na comunidade, os alunos ficam eufóricos com a chegada das cartas e se mostram interessados em responder. “Quando eles vão responder as cartas, têm a preocupação de escrever corretamente, procurando ajuda do dicionário e de outros professores para evitar fazer feio”, afirma o monitor.

Uma experiência também para os alunos da Jornada Ampliada de confirmar se São Paulo é mesmo a maior cidade do país. Bruno Santiago, 16 anos, perguntou nas cartas que escreveu se tem muitos prédios e carros como passa na televisão e diz: “Quando fui a Salvador me senti mal por causa da fumaça, imagine como vou ficar em São Paulo”, comenta o estudante sorrindo. Bruno acha que as cartas proporcionam conhecer como é cada um por dentro, o que pensa e o que mais gosta de fazer, deixando de lado o julgamento pela aparência.

De acordo com Antônio dos Santos, os alunos da Escola Maria Eulália conseguiram juntar 5.500 latinhas. No entanto, ainda não se tem definido onde será construída a cisterna viabilizada pelo projeto.

As dificuldades da troca

A maior dificuldade para manter a troca de experiência tem sido os custos com o envio das cartas. No entanto, segundo o monitor, a Prefeitura do município tem contribuído nas despesas. Além disso, as cartas demoram de chegar até São Paulo. Com a ajuda do projeto, o monitor espera adquirir um computador para a escola, facilitando a comunicação e ajudando os alunos a conhecerem as novas tecnologias.

Animado com essa iniciativa, Antônio dos Santos já pensa em expandir o contato com outro estados: “Com esse projeto, nós estamos pensando na possibilidade de conhecer crianças em escolas de outras cidades. Infelizmente como não temos e-mail para conhecer através da internet, utilizamos a carta, que é um meio muito popular. Apesar das dificuldades, quero continuar, pois é muito emocionante ver como as crianças estão se desenvolvendo”.