MOC integra vários espaços e contribui com a implementação da Política de Fomento à Economia Solidária

23/02/2015

Como Conselheira do Conselho Estadual de Economia Solidária (CEES), a técnica do Movimento de Organização Comunitária (MOC), Gisleide do Carmo, do Programa de Convivência com o Semiárido - Acesso ao Mercado, representou a instituição em reunião ordinária do Conselho que aconteceu na Secretaria do Trabalho Emprego Renda e Esporte (SETRE), em Salvador, nesse dia 23 de fevereiro.
 
O CEES é um órgão que tem como competência acompanhar a execução da Política Estadual de Fomento a Economia Solidária, a fim de garantir aos Empreendimentos Econômicos Solidários e suas Redes, o acesso a recursos e serviços públicos estaduais, que possam contribuir para o seu processo organizativo.
 
“O MOC, enquanto entidade de assessoria e fomento a Empreendimentos e Redes de Economia Solidária e de Comércio Justo e Solidário, é uma das instituições que integra este Conselho, e vem contribuindo com sua participação nesse espaço para o processo de implementação dessa política e o fortalecimento da Economia Solidária”, ressalta Mariza Cerqueira, técnica  do MOC e suplente no CEES. 
 
A participação do MOC no Conselho garante a interferência em espaços e questões estratégicas como a organização das conferências territoriais, estadual e nacional de Economia Solidária e a definição dos critérios de Certificação dos EES e Redes de Economia Solidária e Comércio Justo, questões fundamentais para a consolidação da política no Estado e conseqüentemente, o fortalecimento dos EES e suas Redes.
 
Os produtores e produtoras rurais organizados (as) em Empreendimentos Econômicos Solidários – EES e Redes vêm reescrevendo suas histórias na região Semiárida da Bahia. Muitos desses EES são filiados a Rede de Produtoras da Bahia (RPB) e a Agência Regional de Comercialização da Bahia (Arco Sertão) e são formados, em sua maioria, por agricultoras familiares dos territórios da Bacia do Jacuípe, Sisal e Portal do Sertão.
 
Rede de Produtoras
As mulheres do semiárido baiano conquistam espaços ao longo dos anos graças ao seu poder de organização e articulação feminina. Prova disso são os resultados positivos e a autonomia conquistada através de organizações como movimento de mulheres e grupos de produção. 
 
A Rede de Produtoras da Bahia (RPB) foi criada em 2002 a partir da necessidade de formalizar os grupos de produção já existentes. É uma entidade que atua em 17 municípios do estado da Bahia, nesses territórios, ajuda a fortalecer a organização das mulheres e valoriza o trabalho feminino, incentivando a realização de práticas de desenvolvimento solidário e sustentável.
 
A Rede hoje possui 52 empreendimentos filiados - 50 rurais e 02 urbanos - envolvendo cerca de mil mulheres. “Nasceu da articulação de nove empreendimentos econômicos solidários formados exclusivamente por mulheres rurais sendo que muitas dessas mulheres já eram participantes do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais – (MMTR)”, comenta Patrícia Nascimento, coordenadora da Rede.  Patrícia também cita a Cooperativa da Rede de Produtoras da Bahia (COOPEREDE), criada em 2007, com a missão de articular e fortalecer a cooperação dos grupos de mulheres produtoras, através da organização e comercialização dos seus produtos.
 
Nesse contexto o Movimento de Organização Comunitária (MOC) busca contribuir no empoderamento político, social e econômico dessas mulheres, pois as experiências mostraram que a geração de renda merecia uma atenção especial, já que as mesmas já conseguiam adquirir independência financeira e maior autonomia nas suas decisões. Os grupos filiados passaram a participar de projetos, a receber assessoria da equipe técnica do MOC na área de comercialização, com orientações na organização da produção e na busca de novos mercados. Além disto, com apoio da equipe do Programa de Gênero passaram a aprender como administrar todo este sucesso dentro de casa, pois, a conquista da independência financeira reflete na relação familiar.
 
Para dar maior visibilidade e proporcionar a comercialização dos produtos dos empreendimentos solidários filiados à Rede, em 2009 foi inaugurada a primeira loja coletiva no centro comercial de Feira de Santana, que hoje recebe o nome de Ciranda das Artes. Em 2011 a experiência foi aplicada no município de Santa Luz com a inauguração da loja Maria Bonita, cuja gestão é feita pela diretoria da Associação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Agricultoras Familiares de Santa Luz (Antrafas). A Rede através da participação em licitações públicas também oferece serviços de Buffet para eventos, com culinária regional.
 
O município de Santa Luz tem se destacado no número de grupos de produção que estão fortalecendo a agricultura familiar. No total, 19 grupos, formados por 180 mulheres, estão se desenvolvendo na organização produtiva, geração de trabalho e renda e acessando importantes mercados institucionais. “No total, 15 desses grupos que trabalham com alimentação comercializam para o PNAE”, comenta Joseane Santos, uma das coordenadoras da Rede de Produtoras.
 
Muitas produtoras rurais, representantes de grupos de mulheres, apontam que após começarem a fabricar os produtos puderam investir mais na alimentação e na educação da família. E todas elas sabem também a importância de serem reconhecidas e valorizadas, além de participarem dos espaços de agroecologia, do comércio justo e da economia solidária. “Muitas mulheres são exemplos como Maria Raimunda da comunidade de Caldeirãozinho, e tantas outras, de tantos outros grupos, numa luta contínua de história de superação. Quando ouvimos depoimentos constatamos que tem havido mudanças nas vidas das mulheres que antes não saíam que eram donas do lar e que os maridos se sentiam proprietários delas, hoje estão num espaço dando depoimentos que arrepiam qualquer um. Nosso trabalho hoje não é só geração de renda, mas mudanças nas vidas das pessoas” declara Joseane.
 
“Se tiver um sonho não deixe ele morrer. Lute e acredite”, palavras de Maria da Paz Pereira Barreto, integrante do grupo de produção “Arte e Sabores”, do povoado Várzea da Pedra, município de Santa Luz.  Anos atrás Maria da Paz, a “Paizinha” como é conhecida, não tinha tanta determinação assim. “Só ficava dentro de casa tomando conta de filhos e não conhecia nada. Tinha parado de estudar com 13 anos, casei aos 14, e depois tive cinco filhos. Perdi um filho no primeiro mês de vida e outro foi assassinado no dia do meu aniversário, no ano 2000, quando ele ia fazer 17 anos. Achei que minha vida tinha acabado. Foi muito difícil e muito sofrido”, relata. 
 
Paizinha viu sua vida mudar a partir de 2007 quando resolveu reescrever sua história de outra forma. “Fui convidada a participar de uma reunião do MOC sobre gênero e voltei para casa outra mulher porque percebi que tinha direitos. A partir dessa reunião eu e outras mulheres decidimos formar um grupo de produção que resgatasse uma antiga cultura da nossa comunidade e das nossas avós que é trabalhar com cipó. As pessoas do grupo e da Rede me deram muita força e hoje minha vida mudou para melhor”, conta.
 
Arco Sertão
Com a missão de promover o desenvolvimento social, político e econômico dos empreendimentos da Agricultura Familiar e Economia Solidária, é constituída em dezembro de 2002 a Agência Regional de Comercialização da Bahia (Arco Sertão Bahia). Nasce como uma articulação em rede dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) filiados, entre eles várias associações e cooperativas produtivas no beneficiamento de produtos da agricultura familiar e do agroextrativismo, localizadas nos Territórios do Sisal, Bacia do Jacuípe, Nordeste II e Portal do Sertão.  
 
Em 19 de maio de 2011, através da articulação da Arco Sertão Bahia foi constituída a Central de Cooperativas de Comercialização da Agricultura Familiar e Economia Solidária Arco Sertão  (Arco Sertão Central) com o objetivo de ampliar o acesso aos mercados para os produtos da agricultura familiar e economia solidária. Atualmente a Arco Sertão Central é a gestora do Armazém da Agricultura Familiar e Economia Solidária inaugurado em 09 de março de 2013.
 
Há menos de um mês para completar seu segundo ano de funcionamento, o Armazém é o preposto regional das suas 37 cooperativas filiadas, e de mais outras 13 estabelecidas nos vários cantos da Bahia.  Além das participações em licitações, das vendas diretas de produtos típicos da agricultura familiar e artesanatos aos viajantes e turistas, no próprio “show room” ou em feiras regionais, estaduais e nacionais, os principais mercados são frente às Prefeituras e Escolas Públicas Estaduais para as vendas pelo PNAE, além das vendas para os supermercados, padarias e todo comércio em seu entorno. Nesse período, segundo informações de Leninha Alves, diretora da Arco Sertão Central, já foi comercializado 1 milhão e 900 mil reais.
 
O Armazém, que fica a 1 km da sede do município de Serrinha, possui um auditório para eventos de formação com cozinha e refeitório e serve ainda como ponto de aglutinação para a constituição de cargas ou suporte logístico ao PNAE.
 
São muitas histórias e práticas desenvolvidas na construção de outra economia. Histórias como a do grupo de produção da comunidade quilombola de Vila Nova, município de Biritinga, formada por membros da Associação Comunitária Vilas Unidas. O grupo conta com 115 associados, mas só dois homens e onze mulheres fazem parte do grupo de produção que vêm diversificando a produção de alimentos para a geração de trabalho e garantindo uma renda mensal para as famílias do grupo. “Tivemos muito incentivo do MOC e da Arco Sertão Bahia, nos motivando a participar das discussões sobre economia solidária, feiras da agricultura familiar, reuniões, assembléias e cursos comunitários”, relata Arilma dos Santos Souza, presidenta da Associação.
 
A história das pessoas, principalmente das mulheres que dão vida aos Empreendimentos Econômicos Solidários é uma história de luta. Dia após dia, segue a vida, segue a luta dessas mulheres guerreiras que são, sobretudo, agentes de transformação no Semiárido baiano. Mulheres brancas, negras, índias, quilombolas, mulheres misturadas. Mulheres de raiz forte que resistem e constroem formas de viver de acordo com seu jeito de ser. Mulheres que ampliam espaços e conquistam sonhos.
 
Por:
Maria José Esteves
Programa de Comunicação do MOC  
 


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