Comunicação para o desenvolvimento comunitário

05/12/2014

Comunicação não é problema para as crianças e adolescentes da comunidade de Lagoa Grande no município de Retirolândia. Os meninos e meninas falam pelos “cotovelos” e timidez é uma coisa que não existe mais ali. O medo de conversar e de se expressar passa bem longe e o que se ouve são conversas, histórias, cantorias e até reclamação da professora para que façam um pouco mais de silêncio. A meninada é muito desinibida e comunicativa e quem chega logo se encanta com tanta conversa boa.
 
Na parede da sala de aula da Escola Evangelio Santiago  a comunicação está por toda parte. São muitos cartazes e trabalhos expostos sobre temáticas diversas como : história, saúde, matemática, português e direitos das crianças e dos adolescentes. Muitos desenhos coloridos e na parede lateral um jornal-mural. Também muito colorido e expressivo o jornal-mural apresenta as notícias da escola e da comunidade e é produzido pelos alunos/as , como parte das atividades escolares.
 
Além do jornal-mural,  as crianças e adolescentes também participam da rádio poste do Projeto Comunicação pelos Direitos que é realizado pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC) com o patrocínio da Petrobras. A rádio funciona no espaço da escola e é mais um motivo de festa e alegria para toda a turma. Eles/as participam da programação da rádio, da produção dos textos e materiais, leituras e apresentação dos programas.
 
Além do apoio da escola e da comunidade, a rádio também conta com o apoio do dos jovens comunicadores/as Breno Santiago e Paulo Cesar de Oliveira que integram o projeto e são moradores da comunidade. Eles participam de espaços de formação e diversas oficinas de comunicação do projeto, entre produção de texto jornalístico, educomunicação, radiojornalismo, vídeo, blog e internet .
 
Para o jovem Paulo Cesar o projeto  e o despertar para a comunicação fizeram uma verdadeira revolução em sua vida. Muito tímido e pouco conhecido na comunidade, ele era um jovem muito retraído e não participava dos espaços comunitários. “Nunca me imaginei usando um microfone, mas comecei a participar, me relacionar mais com as pessoas. Passei a falar mais e hoje em dia se deixar não paro mais de falar, foi uma mudança tão prazerosa que eu nem percebi”, diz.
 
A identificação com a comunicação também levou Cesar a participar do grupo de arte da comunidade e a prestar o vestibular para comunicação social na Universidade do  Estado da Bahia (UNEB), em  Conceição do Coité. Já cursando o segundo semestre ele pensa em se qualificar ainda mais na área de comunicação e se sente muito feliz em ser um exemplo para outros jovens da sua comunidade. “Fico muito feliz em ver que hoje sou considerado um exemplo para outros jovens. Antes eu era visto como uma pessoa com poucas perspectivas, devido a falta de qualificação e de oportunidades. Mas, hoje participo de tudo e muitos jovens pensam em estudar e conquistar seus sonhos a partir da minha experiência”, completa.
 
Assim como Paulo Cesar, o outro jovem comunicador Breno Santiago também é estudante de comunicação social e diz que participar do Projeto Comunicação pelos Direitos trouxe inúmeras mudanças na sua vida.  Ele fez parte do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e do projeto de educação do campo Conhecer Analisar e Transformar (CAT)  e para ele o projeto trouxe ainda mais conhecimentos para sua vida e principalmente para a sua comunidade. “A comunidade aqui era esquecida, a gente não sabia quase de nada, não participava de nada. Hoje com o trabalho de comunicação a comunidade está mais informada e mais conhecida”, afirma.
 
Para o representante da associação comunitária de Lagoa Grande Antonio Jorge dos Santos, a comunicação trouxe muito desenvolvimento para a comunidade, principalmente no relacionamento entre os moradores e no aumento da auto-estima das pessoas. “ A comunidade participa das atividades, participa da programação da rádio. Está bastante envolvida em tudo. Podemos ver as pessoas mais desinibidas e também elas estão se sentindo mais valorizadas”, diz.
 
“O projeto é um ganho na comunidade, hoje as pessoas estão muito mais informadas conhecem e buscam os seus direitos”, é o que afirma a professora Maria Guirlene Santiago da Silva. “A comunidade se comunica muito bem, assim como as crianças na sala de aula, que participam das atividades e estão melhorando muito o desempenho na leitura, escrita e oralidade”, completa.
 
Para ela,  o maior ganho para as crianças e os adolescentes foi a perca da timidez. “ Hoje eles/as , falam, participam, questionam. Não tem medo, nem vergonha de falar. Os pais também estão se aproximando cada vez mais da escola e felizes em ver o bom desenvolvimento dos seus filhos/as”, conclui.
 
E a festa e a alegria só aumenta com a hora do intervalo. Além do lanche gostoso, oriundo dos produtos familiar , as crianças e adolescentes aproveitam e correm para  participar do programa de rádio. A programação é variada e traz muitas informações para a comunidade. Informes e avisos são veiculados e muitas músicas educativas, que estão na ponta da língua e são cantadas em coro pelas crianças e adolescentes.
 
“ Eu acho muito bom, porque a gente participa da rádio, fala sobre os nossos direitos, manda alô para a nossa família, canta e lê as notícias da comunidade”, diz a aluna Débora dos Santos Barreto de 12 anos. Para ela,  a comunicação  além de trazer conhecimentos é uma forma de diversão na comunidade. “ Todo mundo aqui gosta e a gente se diverte juntos”, diz.
 


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