Baú de Leitura 15 anos: Ensinar, a arte de transformar vidas

02/09/2014

Há 15 anos, o Projeto Baú de Leitura rompeu barreiras no método de ensino em alguns municípios do Território do Sisal. Professores/as que desenvolvem a metodologia proporcionam o incentivo para a prática da leitura crítica e prazerosa de crianças e adolescentes, além de contribuírem e fortalecerem a construção de uma educação do campo com a família e a comunidade. Nesta série de matérias voltadas especialmente para falar das experiências dos 15 anos do Baú de Leitura, conheceremos a educadora Eleni Ferreira da Silva Reis, de 32 anos, que mora na comunidade de Mari, município de Nordestina. 

A educadora Eleni Ferreira conheceu o Baú de Leitura através das Jornadas Ampliadas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), a partir desse momento nasceu o encantamento pelo mundo da leitura, que trouxe para ela também muitos desafios. “Foi um grande desafio, pois existir um projeto que desenvolvia a leitura dos alunos que vivia longe da realidade leitora e que trabalhavam na roça e não tinha tempo para leitura é uma forma muito desafiadora para conseguir cativar crianças e adolescentes. E, assim foi o meu primeiro contado com o projeto baú de Leitura, que antes era conhecido como Mala da leitura”.

Ela, assim como outros 1.500 professores/as passaram pelo processo de formação do Projeto Conhecer Analisar e Transformar (CAT) que surgiu com a necessidade de melhorar a qualidade da educação nas escolas do campo no semiárido baiano. Hoje através do CAT e do Baú de Leitura existem 1.700 educadores/as atuando de forma direta nos municípios que trabalham os projetos. Nesse processo os professores/as e coordenadores/as participam dos encontros que trocam experiências entre si, estudam e planejam as atividades, sendo estas, formas de capacitar e incentivar a participação ativa desses educadores/as. E assim como Eleni muitos educadores passaram por esse processo.

Para a coordenadora do Programa de Educação do Campo do MOC, Vera Carneiro, é de grande importância acontecer as formações. “É um processo trabalhado na dimensão profissional, particular de cada educador/a. Não são trabalhados apenas com a leitura pragmática, mas, também são instigados a entender o mundo onde as pessoas precisem ser enxergadas e compreendidas, acima de tudo respeitadas em sua identidade, seus costumes e isso tudo é um processo de desenvolvimento humano. Essa formações fortalecem ainda mais os objetivos dos projetos”, completa a coordenadora. 
 
As experiências vivenciadas no projeto sejam na escola ou fora dela trazem lembranças de como a transformação na vida de alunos e alunas e principalmente na comunidade acontece a partir do simples gesto de ler. Para Eleni, participar dessas experiências é muito motivador. “A partir do momento que recebi a formação e a minha caixa de livros, trabalhei com muita paixão e entusiasmo. Participar do Baú me proporcionou conhecimentos inacreditáveis. Relembrar as crianças lendo livros que trabalham a natureza, sua identidade são experiências que jamais saíram da memória. Eu me tornei coordenadora e continuei apaixonada pela metodologia e a transformação que este projeto desenvolve na vida das crianças, famílias e comunidades, valoriza e contribui para transformação da nossa realidade”.
 
As ações do projeto Baú de Leitura trabalha de forma contextualizada, as crianças, adolescentes, famílias e educadores, são mais desinibidas, sabem discutir seus direitos, leem melhor, se reconhece enquanto ser, conhecem e aceitam sua identidade, pois percebem que todos nós temos uma história e precisa ser conhecida e respeitada. Ainda para a educadora “a melhoria da qualidade do ensino, através da formação de professores das escolas municipais do campo vem melhorando dia a pós dia o incentivo e a valorização local das identidades, saberes, valores, um conjunto de elementos e suas especificidades que promovem o respeito político-pedagógico da Educação do Campo”. 
 
Assim como Eleni, tantos outros educadores e educadoras passam suas vidas motivados/as e sensibilizados/as com as atividades do Baú de Leitura e contribuem através do ensino para transformar a realidade de várias comunidades. 
 
O significado de projetos como esse é enriquecedor. “Tudo que fiz, realizei ou conquistei da minha vida profissional foi desenvolvido com este trabalho. Tornei-me mais leitora, ampliei este conhecimento a outras crianças, adolescentes, comunidades, me tornei referencia do projeto para meu município e as pessoas acreditaram e levaram a sério a metodologia em suas vidas. Além de testemunhar mudanças que acontecem todos os dias, o Baú de Leitura conta também outras novas histórias”. Histórias essas de um passado que vai ficando distante e um futuro rico cheio de esperanças e mudanças num espaço coletivo e diverso.  


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