Agroecologia - Celebração da vida e da alegria

20/05/2014

Durante três dias, de 16 a 19 de maio, 2.000 pessoas discutiram, pautaram, vivenciaram e sentiram a importância da agroecologia para a sociedade, enquanto instrumento de desenvolvimento e sustentabilidade.  Apresentações pedagógicas, plenárias, oficinas e seminários  fizeram parte da programação do evento,  reforçando o seu caráter político de mobilização e participação social.Temáticas diversas, como  feminismo, juventude, agricultura familiar, comunicação, cultura e economia solidária com o foco na agroecologia aqueceram as discussões e pautaram a necessidade de um modelo de desenvolvimento sustentável , participativo e solidário para o pais.

Delegações de todo os estados participaram do III ENA, levando seus saberes, suas culturas e as suas problemáticas para as discussões. O Território do Sisal esteve representado na delegação do estado da Bahia, com a participação de agricultores(as), técnicos(as), jovens, membros de movimentos sociais e lideranças, que apresentaram  durante o ENA seu contexto de conflitos, transições e alternativas.

Como parte da programação das instalações pedagógicas, o Território do Sisal trouxe para o ENA os seus conflitos vivenciados a partir de meados da década de 60, envolvendo a questão da indústria da seca, o monopólio da água, a escravização do trabalho e os dilemas do trabalho infantil, que  por muito tempo  assombrou a vida de muitas crianças da região, sobretudo na atuação em carvoarias, pedreiras e no motor que extraia o sisal, a planta que deu nome a região. A contextualização do território trouxe também elementos da transição e as ações que contribuíram para combater os conflitos. Apresentou elementos das lutas do território pela busca dos direitos e participação dos movimentos sociais, das comunidades que  foram essenciais principalmente para alcançar o cenário de alternativas e possibilidades que hoje e visto.

As lutas sociais foram fundamentais para a quebra dos estereótipos que pairavam sobre o território e o apresentava como um lugar miserável, pobre  e impossível de viver. Essa quebra de paradigmas deu lugar à implantação de diversas políticas públicas, da organização popular e do fortalecimento de atividades como a agricultura familiar e a economia solidária.

Atualmente, o Território do Sisal vive o cenário da luta para a convivência com o semiárido, com a participação de agricultores e agricultoras, que são protagonistas das suas vidas e das suas histórias e acreditam  no sertão como um lugar de oportunidade e onde possível viver de forma digna e feliz. No entanto, ainda é preciso a ampliação de mais políticas estruturantes e também lutar contra outros conflitos que surgem como as cisternas de plástico, o uso de agrotóxicos e sementes transgênicas, a educação descontextualizada com  a região e o crescimento desenfreado que grandes empresas como algumas mineradoras que chegam degradando o meio ambiente e afetando as comunidades.

Troca de Sementes- O III Encontro Nacional de Agroecologia trouxe também diversos elementos da cultura e manifestações populares dos territórios. Como parte da programação, aconteceram diversas apresentações culturais e a  troca das sementes crioulas, com a participação dos agricultores e agricultoras. A troca de sementes foi um dos momentos mais animados do ENA, onde agricultores e agricultoras trocaram as suas sementes e as experiências das suas regiões.

Geovanio Silva, agricultor familiar e técnico da APAEB de Serrinha conta que nunca viu algo tão bonito como a troca das sementes. “Eu achei uma maravilha. Eu nunca vi uma coisa tão incrível, as pessoas ficaram super aquecidas, conversando e trocando as sementes. Vou levar para casa sementes de muitos lugares do país”. Para ele, o ENA proporcionou muitos aprendizados, principalmente em relação a agroecologia, enquanto um instrumento de desenvolvimento das comunidades, de sustentabilidade e preservação dos biomas.

Para Seu Pavão, agricultor familiar da comunidade de Malhada da Areia,  município de Aracié muito importante a discussão e o resgate da cultura da preservação das sementes crioulas nas comunidades. Para ele, é fundamental o envolvimento da juventude para dar continuidade e animo ao trabalho.  “Precisamos discutir a importância da agroecologia e as sementes crioulas e continuar esse trabalho, envolvendo mais a comunidades, mulheres, jovens e crianças. É um trabalho que vem e nossos pais e nossos avos e temos que continuar”, afirma

Caminhada e Celebração da Agroecologia - O III ENA teve ainda, momentos de grande emoção e celebração da agroecologia como um elemento de vida e alegria. Uma caminhada pelas ruas de Juazeiro, passando pela ponte, que liga o município a Petrolina, reuniu os agricultores e agricultoras, com palavras de ordem, reivindicações e saudações à importância da agroecologia. Os participantes repudiaram com mensagens, faixas e cantigas o uso dos agrotóxicos, os alimentos transgênicos e toda a forma de violência contra a diversidade dos povos. Uma carta política foi elaborada pautando todas as discussões do III ENA e lida durante a plenária final, na presença de diversas representações da sociedade civil e do poder público.

No encerramento do ENA no fim da tarde do dia 19 de maio, outra caminhada ,as margens do Velho Chico reuniu novamente todos os participantes. Caminhando e cantando juntas as delegações dos estados saudaram a vida e a agroecologia, com muita alegria e emoção. Um ato ecumênico celebrou a diversidade de povos e culturas, toda a natureza e a vida na terra.

 


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