Mulheres com a mão na massa

07/03/2006

O papel da mulher está mudando, não somente nos grandes centros urbanos. No sertão da Bahia, mulheres estão colocando a mão na massa para construir cisternas que servem para captar a água da chuva. A experiência é desenvolvida pelo Programa de Água e Segurança Alimentar do Movimento de Organização Comunitária (MOC) que está capacitando 34 mulheres trabalhadoras rurais para atuarem como pedreiras em três municípios da Região Sisaleira da Bahia: Teofilândia, Retirolândia e Lamarão.

Uma das mulheres que já começaram a exercer o inusitado ofício é Jucélia Souza Santos, de 22 anos, que mora no Povoado de Brava, no município de Teofilândia, a 196 km de Salvador. Segundo Jucélia, o preconceito contra mulheres que passam a trabalhar como pedreiras existe, mas no caso dela as pessoas têm mais preconceito ainda por ela ser jovem.

Sobre as cisternas, Jucélia Souza disse que aprendeu no curso tudo que é necessário e agora é a hora de colocar em prática e mostrar a eficiência de sua ação. Ainda em março, as doze pedreiras já capacitadas construirão 30 cisternas de placas nas comunidades de José Valério e Serrote, em Teofilândia, financiadas pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) da Articulação do Semi-árido Brasileiro (ASA).

Logo se juntarão outras a elas. Entre os dias 20 e 27 de março, doze trabalhadoras rurais serão capacitadas para iniciar a profissão de pedreiras na comunidade de Baixa do Couro no município de Retirolândia e no segundo semestre deste ano será a vez de dez mulheres do município de Lamarão, também no Território do Sisal.
A iniciativa também é desenvolvida em outros Estados por organizações que integram a ASA. Em São Bento de Una, em Pernambuco, a pedreira Edilene Barbosa disse que teve que superar até mesmo o marido que não aceitava o trabalho. "Meu esposo não queria que eu fizesse o curso. Dizia que não ia dá certo. Eu fiz o curso e aprendi a construir cisterna, já ensinei a ele e hoje nós dois trabalhamos juntos", afirma.

Além de formar mulheres pedreiras, segundo Maria Auxiliadora, técnica do MOC, a idéia da capacitação é abrir espaço para políticas públicas que contemplem a geração de trabalho e renda e potencializar a mão-de-obra feminina. As pedreiras e pedreiros ganham R$ 165,00 por cada cisterna construída pelo P1MC.