Cisternas de placa: desenvolvimento e democracia

11/03/2013

O governo federal, através do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), começou a executar o programa de instalação de cerca de 26 mil cisternas no Estado do Ceará. A necessidade de tal equipamento é imprescindível para minorar os efeitos da falta de água potável para as famílias. A opção por cisternas de plástico e não de cimento (cisternas de placa), no entanto, tem gerado protestos em sindicatos de trabalhadores rurais e nos defensores do desenvolvimento sustentável.


A defesa da cisterna de placa de cimento para a captação e armazenamento de água da chuva tem como justificativa a utilização de uma tecnologia social de baixo custo, adequada à região do semiárido brasileiro. Seu sucesso é real, não só por ser mais barata, mas pelo fato de significar um processo que envolve a comunidade por inteiro, tanto na sua confecção como na sua manutenção, fazendo uso de recursos locais.


Meses atrás, sindicatos de trabalhadores rurais mobilizaram-se em protesto contra a decisão tomada por setores do governo federal (integrantes da coalizão) de substituir as cisternas de placas por unidades de polietileno. Os trabalhadores alegam que, além de funcionar bem, as cisternas de placa trazem oportunidade de trabalho ao homem do campo (este, ao mesmo tempo em que recebe o equipamento, ajuda também a construí-lo). Já as cisternas de plástico poluem o meio ambiente e – segundo as queixas de usuários – são menos resistentes ao intenso sol do sertão, esquentam excessivamente a água e deformam-se.

Quando isso acontece, a comunidade fica na dependência da boa vontade de políticos e burocratas para substituí-las, o que leva tempo e alimenta o clientelismo. O contrário acontece com as cisternas de placas: a manutenção é barata e feita imediatamente pela própria comunidade, de forma autônoma.


Os maiores beneficiários da utilização das cisternas de polietileno são os grandes fabricantes. Já as cisternas de placa beneficiam de modo difuso toda uma rede de interesses locais, desde o pequeno comércio de material de construção, à mão de obra ociosa e à comunidade como um todo. Ao mesmo tempo, alimentam o processo de participação cidadã e de solidariedade interna, fortificando os laços comunitários. Ou seja, é uma opção pelo desenvolvimento sustentável e pela democracia participativa.
 
 
 Fonte: Jornal o Povo - CE


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