Agroeocologia para organização comunitária

17/08/2012

Já faz algum tempo que a vida dos moradores da comunidade de Lajedinho no município de Barrocas não é mais a mesma. Antigamente mal se ouvia falar de Lajedinho e quase tudo que era feito dependia do apoio de comunidades vizinhas. Lajedinho era praticamente desconhecida do mapa do município e as famílias que ali moravam passavam por muitas dificuldades.

Atualmente a situação está bastante diferente. Isso graças ao poder de organização da comunidade e também aos projetos e parcerias que chegaram trazendo muitas novidades. Todo o processo de organização começou a partir de reuniões embaixo do pé de cajá e depois na garagem de D. Zefinha.

Uma das primeiras moradoras de Lajedinho, D. Zefinha conta como as pessoas ali se reuniam para discutir os problemas e buscar formas de melhorar a vida. Não existia associação comunitária e as reuniões aconteciam em baixo do pé de cajá e também na garagem de sua casa. “Ninguém ouvia falar de Lajedinho e tudo que a gente precisava dependia da assistência de comunidades vizinhas”, afirma.

A jovem Nilda dos Anjos também se recorda muito bem desse processo. Também moradora da comunidade, ela foi uma das pessoas que ajudou a formar a associação comunitária e o grupo de produção de mulheres.

Segundo Nilda, foi a partir das reuniões semanais, que os moradores perceberam a necessidade de construir uma associação comunitária e formar um grupo de produção, para que promovesse algum tipo de atividade ou desenvolvesse alguma habilidade entre os moradores de Lajedinho. D. Zefinha, uma das moradoras mais antigas doou o terreno e a construção foi feita com a ajuda e o mutirão comunitário.

E foi partir da construção da associação comunitária e da vontade de fazer as coisas acontecerem em Lajedinho, que algumas mulheres se reuniram e decidiram montar o grupo de produção Delícias da Terra, que inicialmente  produzia em pequena escala cocadas e polpas de frutas. “Pedimos ajuda de outras mulheres de outros lugares, que já faziam parte de grupos de produção e contamos com o apoio do Movimento de Trabalhadoras Rurais (MMTR) do município de Teofilândia, que ajudou a organizar o grupo”, completa Nilda.

As cocadas foram os primeiros produtos que as mulheres de Lajedinho começaram a fabricar e eram vendidas na própria comunidade durante as reuniões da associação ou durante algum festejo. “Toda quinta-feira acontecia a reunião da associação e era nesse dia que a gente aproveitava e vendia as cocadas na própria comunidade”, conta Nilda.

Cada mulher do grupo tinha uma habilidade e isso foi fundamental para que fossem dividas as tarefas. O grupo começou a produzir cocadas, depois polpas de frutas e hoje já produz sabão e também hortaliças.

Novas experiências- Diante do processo de organização e desenvolvimento da comunidade, foi durante o ano de 2009 que o Movimento de Organização Comunitária (MOC) em parceria com a entidade norte-americana Heifer levaram para a comunidade de Lajedinho o projeto Parceiros por um Sertão Justo. Um projeto de assistência técnica rural, para o fortalecimento da agricultura familiar, agroecologia, trocas de experiências e para o alcance do desenvolvimento rural sustentável.

Com o projeto Parceiros por um Sertão Justo, alguns moradores da comunidade receberam a cisterna de produção e passaram a fazer em seus quintais hortas e canteiros produtivos. Dona Santinha conta que as pessoas da comunidade não sabiam o que era plantar, muito menos ter uma horta. “Ninguém ali sabia o que era uma hortaliça, um coentro, uma alface. Hoje todo mundo na comunidade tem a sua horta, inclusive o grupo de produção, e as hortaliças são consumidas na alimentação e também são vendidas na feira. Com a renda as mulheres já podem ter o seu próprio dinheiro e não precisam pedir aos maridos”, afirma.

Foram através das ações executadas pelo projeto, que os moradores de Lajedinho passaram a entender mais sobre agricultura familiar, convivência com o semiárido e sobre os princípios agroecológicos. Foram realizadas diversas formações, oficinas, intercâmbios e visitas a outras propriedades de agricultores familiares na região e também fora do estado.

A jovem Maria Anunciação relata que toda essa transformação que aconteceu na comunidade, foi devido a troca de experiências e também a organização social e política de Lajedinho, da vontade e do esforço de fazer as coisas acontecerem. “Atualmente as pessoas da comunidade tem uma melhoria da qualidade de vida, pois sabem o que é uma alimentação saudável, sabem o que é cooperativismo, participação cidadã e desenvolvimento rural sustentável. Sabem que é possível desenvolver respeitando e convivendo com o semiárido”, completa.

Passos futuros- Depois de ser protagonista de todo esse processo de desenvolvimento a comunidade de Lajedinho realmente não é mais a mesma, que antes era desconhecida e que mal ouvia-se falar sobre as coisas que lá aconteciam. Hoje a comunidade é referência no município, recebe muitas visitas e promove intercâmbios para promover a troca de experiências. As mulheres estão conquistando sua autonomia através das atividades realizadas pelo grupo de produção e todas as pessoas são protagonistas de suas histórias. As famílias vivem felizes, e mesmo com as adversidades transmitem para seus filhos a importância do respeito ao outro, da união e de respeitar e conviver com o lugar em que vivem.


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