Brasil segue entre os países mais perigosos para meninas e mulheres, alerta coordenadora do PGGIR/MOC em novo chamado ao enfrentamento da violência

10/12/2025
Brasil segue entre os países mais perigosos para meninas e mulheres, alerta coordenadora do PGGIR/MOC em novo chamado ao enfrentamento da violência

O avanço da violência contra meninas e mulheres no Brasil continua em um patamar alarmante e exige respostas urgentes. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que o país registrou 1.463 feminicídios em 2023, número recorde desde a criação da tipificação do crime. O mesmo levantamento aponta que, a cada quatro minutos, uma mulher sofre agressão. Já os crimes de violência sexual cresceram 8,2% em relação ao ano anterior.

Em perspectiva global, o Brasil ainda figura entre os piores países para mulheres viverem. Relatórios internacionais da ONU Mulheres e da CEPAL colocam o país na 5ª posição mundial em feminicídios, atrás apenas de nações marcadas por instabilidade política e conflitos internos. Na Bahia, o cenário também se agrava: segundo a SSP-BA, foram 105 feminicídios em 2023, um crescimento de 18% em comparação com 2022.

Esses dados revelam o tamanho da urgência. Revelam também como a violência de gênero vem se sofisticando e se expressando em múltiplas camadas. Das agressões físicas aos discursos misóginos que se multiplicam nas redes e ambientes digitais, tornando-se terreno fértil para grupos organizados que buscam naturalizar a inferiorização das mulheres.

A coordenadora do Programa de Gênero, Geração e Igualdade Racial (PGGIR) do MOC, Selma Glória, explica que esse fenômeno não é isolado, nem fruto do acaso. É estruturante. E, por isso, só pode ser enfrentado com mudanças igualmente profundas.

“Estamos vivendo no Brasil uma escalada de violência assustadora. O Brasil ainda é um dos lugares mais perigosos para mulheres e meninas viverem. O quinto país no ranking mundial de índices de violência e de feminicídio. Significa que nós precisamos agir rápido”, afirma Selma.

Ela destaca que o MOC, ao longo de sua trajetória, tem construído parcerias com organizações de mulheres, coletivos feministas e redes comunitárias para fortalecer mecanismos de proteção, autonomia e transformação social.

“O MOC vem ao longo da sua história, ao longo dessa caminhada, se juntando com organizações de mulheres, organizações feministas, com a sociedade civil de modo geral, para buscar caminhos efetivos para o enfrentamento às desigualdades de gênero e à violência contra meninas e mulheres.”

Este ano, o MOC intensifica sua atuação com a campanha “Sem Medo – Pelo fim da violência contra meninas e mulheres”, uma mobilização que reafirma o compromisso da organização com a defesa da vida, da autonomia e da liberdade das mulheres. Construída de forma coletiva com entidades, movimentos sociais, juventudes e instituições parceiras, a campanha integra os 21 Dias de Ativismo e busca ampliar o diálogo sobre prevenção, direitos, proteção e enfrentamento às múltiplas violências. A proposta é mobilizar territórios, fortalecer redes locais, promover ações educativas e convocar toda a sociedade a romper ciclos de opressão, garantindo dignidade, equidade e um futuro sem medo para todas as mulheres e meninas.

Selma reforça que não há solução possível se continuarmos tratando o problema apenas de forma pontual ou emergencial. A violência nasce de raízes profundas e só será interrompida quando as estruturas que a sustentam forem modificadas.

“Entendemos que se o problema da violência é estruturante, as medidas adotadas também devem ser estruturantes. Por isso nós estamos também nos 21 dias de ativismo pela campanha pelo fim da violência contra meninas e mulheres, entendendo que essa é uma responsabilidade muito mais humanitária, que toda a sociedade deve assumir.”

Para ela, romper o ciclo exige mobilização permanente, dentro e fora das instituições, nos espaços públicos e privados, nas escolas, comunidades e ambientes de trabalho. Não é um chamado apenas às mulheres, mas à sociedade inteira.

“Convocamos vocês, toda a sociedade, homens e mulheres, para que possamos nos engajar, para que possamos ir para a rua, adotar medidas e posturas nas nossas instituições e nos nossos espaços, para que essa onda de violência tenha um fim. Toda menina e toda mulher tem o direito a viver uma vida livre de toda e qualquer forma de violência. Então, junte-se a nós, sem medo, pelo fim da violência contra meninas e mulheres”, conclui.