Brasil sai do Mapa da Fome: ações do MOC fortalecem segurança alimentar no Semiárido

31/07/2025
Brasil sai do Mapa da Fome: ações do MOC fortalecem segurança alimentar no Semiárido

O Brasil está oficialmente fora do Mapa da Fome, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), divulgada em julho de 2025. Essa conquista histórica representa um avanço coletivo diante de um dos problemas mais urgentes enfrentados pela população brasileira: a insegurança alimentar.

De acordo com a FAO, o percentual de pessoas em situação de fome caiu de 15,3% para 2,5% da população. Ainda que esse número revele um progresso significativo, ele também impõe um alerta e uma responsabilidade: há milhões de brasileiros e brasileiras que seguem em situação de vulnerabilidade alimentar, especialmente em territórios historicamente marcados por desigualdades, como o Semiárido.

Na região, a atuação de organizações da sociedade civil tem sido decisiva para promover a soberania alimentar e a justiça social. É o caso do Movimento de Organização Comunitária (MOC), que há décadas trabalha na promoção da agroecologia, da produção sustentável, da convivência com o Semiárido e da segurança alimentar e nutricional. O MOC reafirma seu compromisso com um projeto de país onde comer não seja um privilégio, mas um direito garantido a todos e todas.

O MOC contribuiu para o Brasil sair do Mapa da Fome. Isso se concretiza por meio de ações como a construção de cisternas, implementação de quintais produtivos, formação de mulheres e jovens do campo, apoio à agricultura familiar, incentivo à economia solidária e fortalecimento de políticas públicas junto a entidades parceiras, fóruns e conselhos de controle social além de formações com reflexões e incentivo às práticas que contribuem para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. Tem se consolidado como uma força mobilizadora no enfrentamento à fome no Semiárido baiano por meio da campanha: É Tempo de Cooperar – Solidariedade por um Sertão Justo. Tudo isso em articulação com programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o fortalecimento de estratégias, que unem combate à fome, geração de renda e fortalecimento comunitário com justiça social e vida digna. Mais do que mitigar a fome, o MOC atua na raiz das desigualdades, promovendo inclusão produtiva, educação contextualizada e organização social.


Naidison Baptista, coordenador da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), reforça que o resultado anunciado pela FAO é fruto de um esforço compartilhado entre governo e sociedade civil. Em sua fala, destaca, “o Brasil sai do mapa da fome. É um grande feito, é uma conquista do governo federal, dos governos estaduais e da sociedade civil organizada, que esteve junto, que fez propostas, que executou políticas, que fez o controle social das políticas de segurança alimentar e nutricional e dos programas de erradicação da fome.”

Para ele, é fundamental celebrar, mas sem perder de vista os desafios que ainda persistem. E reforça, “temos que celebrar, temos que nos alegrar. No entanto, temos que olhar que 2,5% da população ainda está com fome. E este percentual tem cor, tem sexo, tem localização, tem raça. A fome está mais presente entre os negros, está mais presente nas comunidades tradicionais, nas mulheres e especialmente nas mulheres negras, nos lares conduzidos por mulheres negras. A fome está mais presente no Norte e no Nordeste.”

Diante desse cenário, Naidison afirma que o caminho deve ser seguir combatendo as desigualdades com políticas públicas e mobilização social, “por conseguinte, precisamos localizar esses espaços e buscar, com todas as nossas forças, continuar o processo de erradicação da fome. Nossa meta não é ter 2,5% de pessoas ameaçadas. Nossa meta é ter 0% da população ameaçada pela fome. É ter todas as pessoas do Brasil em segurança alimentar e nutricional.”

Para Ana Glécia Almeida, coordenadora do Programa Água, Produção de Alimentos e Agroecologia (PAPAA) do MOC, a agricultura familiar tem papel central na superação da fome e no acesso à comida de verdade. “Que alegria poder estar aqui festejando essa grande notícia em que o nosso país sai do mapa da fome e consegue possibilitar que homens e mulheres tenham acesso aos alimentos e consigam fazer suas refeições. A agricultura familiar tem um impacto muito grande nessa ação, porque é quem produz alimentos saudáveis e, com base na agroecologia, oferta alimentos sem riscos à saúde das pessoas que os consomem.”

O MOC, ao longo dos seus quase 60 anos, se colocou sempre ao lado das pessoas que precisam acessar direitos. “Com suas ações, a partir das águas, da assistência técnica, com educação contextualizada, com economia justa, popular e solidária, equidade de gênero e igualdade racial dentro dos territórios, conseguiu, sem sombra de dúvida, contribuir para que muitas famílias tivessem acesso aos alimentos, à água tratada de qualidade e à possibilidade de produção e oferta de alimentos para outras famílias”, complementa a coordenadora.

Além disso, a organização estimula a participação comunitária nos espaços de controle social, como conselhos municipais de segurança alimentar e de desenvolvimento rural sustentável, fortalecendo a democracia e assegurando que as políticas públicas estejam alinhadas à realidade local.

Essas ações se conectam diretamente ao fortalecimento do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), do qual o MOC é parte ativa, articulando estratégias com governos e outros agentes da sociedade civil para garantir o direito humano à alimentação adequada.

Entusiasta Ana afirma, “viva a agricultura familiar, viva a economia solidária, viva a agroecologia e viva o povo brasileiro que produz e alimenta com qualidade. São homens e mulheres ressignificando a história dos seus territórios, ocupando feiras agroecológicas, ofertando alimentos de qualidade, com sabores, riquezas e valores culturais e ancestrais.”

Diante desse cenário, a continuidade do compromisso político e a mobilização social são essenciais para que a fome seja definitivamente erradicada no Brasil. Ao lado da ASA, de entidades e redes de organizações sociais o MOC reafirma seu compromisso com a construção de um país sem fome, entendendo que o combate à insegurança alimentar depende de decisões políticas concretas, de políticas públicas integradas e da participação ativa da sociedade civil.

Um Brasil livre da fome exige continuidade, investimento e coragem para enfrentar as desigualdades estruturais que ainda negam direitos a milhões de brasileiros e brasileiras. Mais do que um marco técnico, sair do Mapa da Fome representa a retomada de um projeto de país centrado na justiça social. A luta continua até que todos e todas estejam, de fato, em segurança alimentar.

 

Fontes: FAO; Relatório Anual do MOC 2024.

Texto: Alan Suzarte e Kivia Carneiro