8 de Março: Nenhum direito a menos

06/03/2020
8 de Março: Nenhum direito a menos

Em 2020, no dia Internacional da Mulher (08 de março), o Movimento de Organização Comunitária (MOC), continua na luta por nenhum direito a menos.  No contexto histórico e desafiador atual, torna-se necessário resgatar a trajetória de luta e resistência das mulheres, em diferentes tempos e lugares, como também nas diversas maneiras de resistir ao sistema opressor ao qual historicamente as mulheres são submetidas. Durante o mês de março, especialmente no dia 08, o mundo inteiro presta homenagens às mulheres por suas lutas e conquistas.

O MOC comunga dessa luta há anos e através das suas ações, diversas mulheres decidiram transformar as suas vidas e passaram a fazer parte de espaços de construção, mobilização e defesa dos direitos civis, políticos, sociais e econômicos das mulheres. O propósito prioritário do MOC, tem sido para contribuir para que mulheres do semiárido e periurbanas estejam empoderadas sociopolítico, econômica e culturalmente avançando com suas famílias, comunidades e organizações na construção de relações justas e solidárias na perspectiva da promoção da igualdade e equidade de gênero através de ações integradas e transversalizadas institucionalmente. Entendemos que é importante fomentar o empoderamento das mulheres trabalhadoras, em especial as rurais, despertando nas mesmas reflexões que façam surgir o desejo de reconstruir sua história com sonhos, emoções, esperanças e principalmente ações próprias, fazendo aparecer, assim, elementos que as configurem como sujeitos sociais autônomos.

O MOC espera dinamizar a participação das mulheres em esferas decisórias. Entre as ações desenvolvidas está a sensibilização das trabalhadoras, que precisam romper com uma defasagem histórica de submissão. Algumas temáticas em debate são de autoestima, participação da mulher na sociedade, violência e exploração sexual, e geração de renda. A partir destas discussões, as mulheres traçam suas prioridades, demandas, reivindicações, propostas e estratégias de atuação. O MOC também considera importante que incorporar a reflexão sobre as relações sociais entre homens e mulheres nas ações que desenvolve com as organizações sociais do território sisaleiro e de outros espaços tem se mostrado uma estratégia fundamental para o desenvolvimento sustentável e solidário destas regiões.

Sobre a importância da celebração ao Dia Internacional da Mulher, a coordenadora do Programa de Gênero do MOC, Selma Glória, enfatiza a importância da celebração do dia internacional da Mulher. “O 08 de março é um dia pra celebrar e refletir sobre o avanço nos direitos das mulheres, mas também de exigir e lutar pelo fim das desigualdades de gênero.  Nos inspiramos na trajetória de mulheres que nos antecederam e deixaram seu legado de resistência e resiliência para que possamos nos manter na linha de frente protagonizando lutas em diferentes lugares, contextos e momentos históricos.  E importante considerarmos que não podemos aceitar que mulheres e meninas estejam a margem das decisões políticas do nosso país quando somos maioria e nosso direitos são violados e nossas vidas negligenciadas. Enfrentar o racismo,  machismo, homofobia é  urgente e necessário para promover a  equidade de gênero”, destacou Selma.

O MOC segue com sua luta por nenhum direito a menos de mulheres, com o proposito de ampliar o acesso a formação e informação na prevenção e enfrentamento a violência contra mulheres e meninas, além de incentivar condições que possibilitem a promoção da equidade entre mulheres e homens, além de fomentar o empoderamento dessas mulheres e a participação ativa das mesmas na vida sociopolítica, econômica e cultural. 

 Você sabe por que o 8 de março foi escolhido para ser o Dia Internacional da Mulher?

"Uma manifestação espontânea — levada a cabo por trabalhadoras do setor têxtil da cidade de Nova York, em protesto contra os baixos salários, contra a jornada de trabalho de 12 horas e o aumento de tarefas não remuneradas — foi reprimida pela polícia de uma forma brutal (8 de Março de 1857). Muitas jovens trabalhadoras foram presas e algumas esmagadas pela multidão em fuga. Cinquenta anos mais tarde, no aniversário dessa manifestação, esse dia é declarado, em sua memória, o Dia Internacional da Mulher" (Temma Kaplan).

No Brasil, podemos dizer que o dia 24 de fevereiro de 1932, foi um marco na história da mulher brasileira, pois foi instituído o voto feminino, as mulheres conquistavam, depois de muitos anos de reivindicações e discussões, o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo.

Diante desse contexto, pode-se mencionar a luta das mulheres trabalhadoras rurais na perspectiva da busca incansável por igualdade de direitos e outras conquistas, tais como: Atividade econômica e rendimentos; Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural; Água para todas e todos; Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e Organização produtiva das mulheres. Isso resultou no mercado de trabalho no Brasil sendo ampliado para as mulheres nestas últimas três décadas.

O Brasil ainda ocupa o 5º lugar no ranking mundial de Feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). E segundo dados do 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2019), os feminicídios correspondem a 29,6% dos homicídios dolosos de mulheres em 2018. Foram registrados 101 casos em 2019, um acréscimo de 32,9%, comparado a 2018 que teve 76 crimes em todo estado baiano. Desde que a Lei entrou em vigor, os casos de feminicídio subiram 62,7%4. Vale destacar, que 61% são mulheres negras, sendo que 88,8 dos casos o autor foi o companheiro ou ex companheiro.

Outro dado alarmante é o alto índice de violência sexual em que as meninas são as principais vítimas, 53,8% tinham até 13 anos de idade, ou seja, 4 meninas são estupradas por hora no Brasil (Anuário de Segurança Pública, 2019). Proteger as meninas e garantir a efetivação do sistema de garantia de direitos é urgente e responsabilidade do Estado e nossa.

Desse modo, precisamos superar a problemática cultura da violência de gênero que afeta meninas e mulheres e deve ser combatida com a responsabilidade pelo Estado e toda sociedade, rompendo a cultura do machismo, promovendo a igualdade de oportunidades entre meninas e meninos, mulheres e homens em todas as dimensões da vida.

O Brasil, vive as margens de negações de direitos das mulheres e de fortes índices de violências contra mulheres e meninas, mesmo com conquistas importantes nesta caminhada de luta e resistência, há uma trajetória árdua, que vem se agravando ainda mais neste cenário de desmontes das políticas públicas e a disseminação de ódio que afeta drasticamente a vida das mulheres e meninas.

O dia 08 de março é um marco na luta das mulheres, pela garantia de direitos. A celebração da data é mais que uma simples comemoração ou lembrança, é, na verdade uma inegável oportunidade para pensar, repensar e organizar as mudanças em benefício da mulher e, consequentemente, de toda a sociedade.

 


 

“Nossa meta não é criar um novo território chamado história

das mulheres’, uma pequena concessão onde as mulheres possam trabalhar

em paz, protegidas das contradições, mas sim mudar a direção do interesse

histórico, situando a questão da relação entre os sexos como central.

Esse é o verdadeiro objetivo da história das mulheres.”

(Michelle Perrot. Writing women’s history (1992).