Crianças e adolescentes fazem mais que arte

12/07/2005

Quem disse que crianças só fazem arte e pintam o sete? Com a III Mostra de Arte e Cultura do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) do Estado da Bahia, meninos e meninas de várias regiões do Estado mostram o que estão aprendendo no dia-a-dia escolar é mais que serem protagonistas em cenas de teatro. Na abertura do evento, nesta terça-feira (12.07) no Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), em Feira de Santana, meninos e meninas que antes trabalhavam para ajudar a família na lavoura de sisal relataram numa mesa redonda como os direitos garantidos no ECA estão mudando suas vidas a partir do PETI.

Com olhares atentos o adolescente Jonatas, 16 anos e ex-aluno do PETI do Distrito de Salgadália, em Conceição do Coité, disse que o ECA veio para ajudar as crianças e adolescentes e para dar melhores condições as famílias. "Mas, quando eu cheguei aqui em Feira de Santana eu vi dois meninos nas ruas mexendo nos lixos para pegar papelão, plásticos e até restos de comida. Eu fiquei pensando assim... se isso fosse comigo? Vamos ajudar as pessoas, vamos fazer nossa parte", comentou o ex-trabalhador de motor de sisal.

A mesa redonda de abertura da Mostra foi um diferencial do evento que conta com cerca de 300 participantes de 70 municípios baianos e Sergipe. Um dos objetivos da III Mostra de Arte e Cultura é a troca de experiências e saberes entre os participantes e a divulgação de produtos da agricultura familiar. "Esta foi uma oportunidade para mostrarmos o quanto que a gente sabe falar, o que a gente sabe demonstrar, o que o queremos, o que o Brasil precisa e o que deve ser feito", disse Gabriele Santos, 10 anos, que participa do Projeto Cat - Conhecer, Analisar e Transformar.

Com muita chuva na manhã desta terça-feira (12), começou uma Feira de Produtos da Agricultura Familiar desenvolvidos na região. Além dos produtos também estão expostos telas de pintura, poesia, artesanato, música e fotografia de ações de crianças e adolescentes atendidos pelo PETI e pelos projetos do MOC. Jovens de toda a região também estão presentes no evento e mostram seus potenciais. É o caso dos comunicadores da Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura, que são responsáveis pela divulgação do evento. "Também somos responsáveis por uma nova sociedade que sonhamos e vamos conseguir", comentou Ana Isabel, integrante do ATER Jovens, projeto desenvolvido pelo MOC em parceria com o Instituto Credicard.

Ainda na primeira etapa do evento, uma segunda mesa redonda reuniu representantes do governo, do UNICEF e da sociedade civil para debater os 15 anos do ECA e o Pacto Nacional Um Mundo para Crianças e Adolescentes do Semi-Árido. Uma banda de percussão e um grupo de capoeira de Vitória da Conquista formados por crianças fizeram a abertura do encontro. A Peça Teatral "Meninos de Rua" do Grupo Despertando Talentos de Retirolândia também incentivou o debate sobre o ECA, mostrando a realidade de meninos e meninas nas ruas das grandes cidades. Até o final da Mostra na sexta-feira, dia 15 de julho, acontecem oficinas, debates, recitais de poesias, teatros e mostras de filmes e fotos.

A III Mostra de Arte e Cultura é promovida pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC) e tem a participação de artistas, escritores e convidados. O evento conta com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), UNICEF, Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil, Novas Edições Distribuidora, Secretaria Estadual do Trabalho e Ação Social (SETRAS), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Banco do Nordeste, Centro Dom José Brandão de Castro, e as prefeituras e a sociedade civil organizada das regiões do Sisal, Jacuípe, Piemonte e Recôncavo.