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20 DE NOVEMBRO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
20/11/2018
No Brasil, o dia da Consciência Negra é celebrado
em 20 de novembro, a data homenageia Zumbi líder do Quilombo dos Palmares,
situado entre os Estados de Alagoas e Pernambuco, um africano que nasceu livre,
mas foi escravizado aos seis anos de idade e morto em 1695, na referida data, se
tornando a maior referência na luta contra a opressão sofrida pela população
negra, um ícone da resistência e da luta pela liberdade. Portanto, é um dia de
intensificar a reflexão sobre a necessidade de conscientização da história e
direitos do povo negro historicamente negado.
Neste dia, também somos convocados a
reconhecer a importância do povo e da cultura africana no Brasil, além de
incentivar a analise sobre os impactos que tiveram no desenvolvimento da
identidade cultural brasileira, a exemplo das músicas, da política, da religião
e da gastronomia, entre outras áreas que são influenciadas pela cultura negra, por
isso, também é um dia de orgulho e resistência a todas as formas de opressão e
discriminação racial imputada ao nosso povo.
Vale ressaltar, que ser negro neste país é
representar uma raça que batalha por séculos para ser detentor da dignidade
humana, carregando ainda nas costas um passado de dor pungente e discriminação.
É ter consciência que nosso povo é notoriamente violentado pelo sistema social,
político e econômico deste país, mas é também reconhecer e enaltecer uma
cultura rica em conhecimentos, tradições e que por vezes é invisibilizada.
Uma das principais facetas da desigualdade
racial no Brasil é a forte concentração de pobreza e homicídios na população
negra, quando esta ocupa a base da pirâmide social. Dados do Atlas da Violência (2018) aponta que, em 2016 a taxa de homicídios de
negros foi duas vezes e meia superior à de não negros (16,0% contra 40,2%). Do
mesmo modo chama a atenção o extermínio da juventude negra que é a face mais
visível e cruel do racismo no Brasil. O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência
demonstrou que o risco de um jovem negro ser vítima de homicídio no Brasil é
2,7 vezes maior que o de um jovem branco.
As categorias de gênero, raça e classe são
fundamentais para entender a violência contra as mulheres, que é em última
instância, resultado da produção e reprodução da iniquidade que permeia a
sociedade brasileira visto que as taxa de Feminicídios de meninas e mulheres
negras aumentaram em 54,2%, passando de 1.864 para 2.875 em 2013 (Mapa da
Violência 2016). Por isso, essa data também dá inicio no Brasil, desde 2003, a
Campanha dos 16 Dia de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, que é
uma mobilização anual, praticada simultaneamente por diversos atores da
sociedade civil e poder público engajados nesse enfrentamento, destacando assim
as múltiplas descriminações vivenciadas pelas mulheres negras, onde a grande
maioria são pobres.
Dados do IBGE (2009), apontam que as mulheres
negras representam 50% da população feminina e a maior concentração está na região
Norte e Nordeste do país, já no Estado da Bahia esse percentual se leva para
78% (IPEA, 2011). As desigualdades de
gênero e raça também se desnuda nos espaços de poder e decisão no qual as
mulheres estão sub-representadas e ocupam cargos considerados de baixo escalão,
além de baixo percentual na ocupação de cargos nas lideranças do governo e do
poder legislativo. A violação de direitos das mulheres negras rurais é também invisibilizada
e negligenciada também pelas políticas públicas quando estas não levam em
consideração as especificidades das suas demandas.
Nesse contexto, o Movimento de Organização
Comunitária (MOC) que atua em defesa dos direitos humanos, através da linha de
ação na área programática de gênero, o de “objetivo contribuir para que
mulheres estejam empoderadas na perspectiva da promoção da igualdade e equidade
de gênero através de ações integradas e transversalizadas institucionalmente”,
buscando ainda corroborar no enfrentamento ao racismo e a todas as formas de
discriminações e violência de gênero e raça, que são submetidas à população
negra que teve historicamente seus direitos negados.
O MOC acredita ainda, que a questão racial
deve ser debatida em todos os espaços de maneira que legitime o lugar de direito
de cada pessoa e garanta que homens e mulheres sejam respeitados/as e
oportunizados/as o acesso aos direitos, sociais, políticos econômicos e
culturais, sobretudo o direito a vida.
Dessa forma, MOC assume também essa luta
contra a violação dos direitos da população negra através das suas ações
estratégicas e áreas programáticas atuando com educação inclusiva não racista e
não discriminatória através do Projeto Baú de Leituras e de educadoras/es,
crianças e adolescentes; atuação com as comunidades quilombolas, além de contribuir
na autonomia social, política e econômica das mulheres rurais negras e não
negras bem como na formação política em gênero e raça. Neste campo, o Programa
de Gênero integra a Rede de Enfrentamento ao Racismo Institucional do
Território do Sisal, que foi constituída em abril/2018, com sete municípios do
Território do Sisal e vem desenvolvendo ações diretas e articuladas com poder
público e sociedade civil de modo a pautar políticas públicas de promoção da
igualdade racial tendo em vista o reconhecimento da nossa ancestralidade e o
direito a viver dignamente.
Parafraseando Conceição Evaristo, no livro “Poemas da recordação e outros movimentos”:
“Nos olhos do
jovem
também o brilho de muitas histórias
e não há quem ponha
um ponto final no rap
É preciso eternizar as palavras
da liberdade ainda e agora…”
Assim,
o MOC continua sua luta por um Sertão Justo e livre de todas as formas de
opressão, racismo e discriminação.
Por: Selma Glória e Ádila da Mata - PGEN
Card: Kivia Carneiro - PCOM