VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: ENTRE O AMOR E O ÓDIO

04/01/2018
VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: ENTRE O AMOR E O ÓDIO

Ei, você já percebeu como o machismo e o patriarcado estão presentes no seu dia a dia? Você já parou para analisar o que algumas músicas falam sobre a mulher?

“Tudo que é perfeito agente pega pelo braço. Joga ela no meio. Mete em cima/ Mete em baixo. Depois de nove meses você vê o resultado". Pau Que Nasce Torto.
  É o Tchan.

Quantas vezes, você ouviu algo assim e dançou como se nada tivesse acontecendo? Músicas como: “Pau que nasce torto” do grupo É o Tchan, reforça a cultura do machismo, pois sua letra incentiva à prática do estupro, tratando a mulher de forma vulnerável ou como um objeto sexual, levando a uma situação de desrespeito total.

"Dói, um tapinha não dói. Um tapinha não dói. Um tapinha não dói. Um tapinha não dói, só um tapinha". Bonde do Tigrão.

E essa, já parou para pensar o que quer dizer? A música: “Um tapinha não dói” do Bonde do Tigrão é um funk, que fez muito sucesso, além de ser muito tocado em todo Brasil. É mais uma comprovação, que a música apoia e reforça a cultura do ódio contra as mulheres, a misoginia, uma vez que diz que um tapinha não dói, depois de um tapinha vem um soco, um empurrão, uma facada, um tiro (...).

“Tô a fim de você. E se não tiver, você vai ter que ficar... Vai namorar comigo, sim! Vai por mim, igual nós dois não têm. Se reclamar, cê vai casar também”.

O que falar do romantismo dessa música sertaneja à cima? Pois é, Henrique e Juliano em “Vidinha de balada” não são nada românticos, o que a letra desta música imprime é a cultura patriarcal, no qual as mulheres não são donas de suas próprias vidas, não tendo o direito de escolher se quer ou não namorar, se reclamar ainda é obrigada a casar.

Os trechos dessas músicas citadas, assim como muitas outras, transmitem mensagens machistas e patriarcais. Mulheres, homens, adultos, jovens, adolescentes e até crianças repetem suas letras, sem refletir o que elas verdadeiramente falam. As músicas referidas são apenas exemplos de como a violência contra as mulheres, são reproduzidas e naturalizadas na sociedade brasileira.

Uma sociedade é considerada patriarcal quando tudo gira em torno do homem, as decisões políticas, sociais e econômicas são tomadas a partir das necessidades e do olhar masculino. Este homem por sua vez, atua com domínio e autoridade sobre as mulheres e as crianças, anulando seus desejos, seus anseios, vontades e suas opções.

Notícias, como as abaixo, aparecem frequentemente nos blogs, nos jornais, nas redes sociais, nas emissoras de televisão. E você, como se sente? Lembra-se desses casos?

Daiane Reis Mota, de 25 anos, de Serrinha, daria luz ao segundo filho dois dias depois do assassinato. Ela foi encontrada morta com um tiro na nuca, depois de ser dada como desaparecida. Seu companheiro e pai da criança que esperava é o autor do assassinato. Suposto motivo do crime: “ciúmes”.

Vanuse Pinho Matos, 38 anos, de Araci, foi assassinada a facadas por seu ex-marido, o crime aconteceu na casa do pai da vítima e na frente de duas de suas filhas. Suposto motivo do crime: “não aceitava a separação”.

Risoleta Araújo Alencar, 30 anos, Feira de Santana, gestante morta pelo marido, foi morta a facadas.
Suposto motivo do crime: “Ele não aceitava dividir as tarefas domésticas”.

Raimunda Góes, de 41 anos, de Araci, foi assassinada por um vizinho que a teria feito um pedido em casamento, por não ter aceitado se tornou vítima de assassinato a tiros. Suposto motivo do crime: “Ela teria roubado dois peixes”.

Alessandra Neris de Araújo, 29 anos, de Itiúba, foi assassinada a facadas por seu ex-marido, crime ocorreu em frente ao bar após discussão.
Suposto motivo do crime: “ciúmes”.

Lembrou? O que Daiane, Vanuse, Risoleta, Raimunda e Alessandra, têm em comum?

Todas são vítimas de crimes bárbaros, todas são vítimas de crimes premeditados, todas são vítimas do “amor”, isso mesmo do “amor”, pois é esse um dos nomes que muitos agressores usam para esconderem seu machismo, para esconderem seu sentimento de posse, de superioridades e de proprietários.

Estes crimes têm nome: FEMINICÍDIO!

Feminicídio é o nome dado ao crime cometido por homens contra mulheres, simplesmente por serem mulheres, isso mesmo quando as mulheres morrem apenas por serem MULHERS.

É importante citar, que o feminicídio ocorre junto com a misoginia, uma vez que geralmente é delito cometido com requinte de violência e proferido com ódio, pois para os homens autores dos crimes as mulheres, vítimas, são suas propriedades e eles podem fazer delas o que desejarem, inclusive tirar suas vidas.

"
Segurem suas cabras que meu bode está solto".
"Se ela saiu com essa saia na rua é por que queria ser assediada, né?"
“Isso não é lugar para uma mulher de respeito”

Frases como as ditas a cima, são exemplos de como se reforça o
machismo e o patriarcado e a partir deles se incentiva o feminicídio e a misoginiaÉ preciso repensar os conceitos de relações humanas, inclusive as relações entre homens e mulheres, homens e homens e mulheres e mulheres. Afinal, vivemos em uma grande comunidade chamada Terra e é preciso aprender a conviver, com respeito às diferenças.





Por: Célia Firmo
Coordenadora Geral do MOC
Foto: Arquivo MOC