Cisterna transforma rotina de colégio estadual em Conceição do Coité

23/03/2016
Cisterna transforma rotina de colégio estadual em Conceição do Coité

“Já passamos aqui à deriva. Em uma certa época, não tinha nem aula porque não tinha água, nem pra fazer limpeza da escola nem pro alunado beber ou se limpar. Os caminhões-pipa não tinham como chegar para quem precisasse, para atender toda a demanda do município. Já aconteceu de a gente ficar sem água uma semana”, conta a professora das séries 1 e 2 do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Padre José Antônio dos Reis, em Conceição do Coité (BA), Clederley de Oliveira Carneiro e Silva.

Clederley, 41 anos, nasceu e cresceu no povoado de Ipoeirinha, no município baiano, e é ex-aluna da escola. Ela garante que todos têm motivo para celebrar o Dia Mundial da Água, comemorado nessa terça-feira (22). O Colégio recebeu, em novembro de 2015, uma unidade de captação de água da chuva do Projeto Cisternas nas Escolas, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em parceria com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e acompanhado pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC).

A cisterna tem capacidade para armazenar 52 mil litros de água para consumo humano e já começa a ser utilizada neste ano. Já no primeiro dia de aula, 1º de março, estudantes, pais, professores e diretoria assistiram a um vídeo sobre os cuidados com a água e com a cisterna. “Pense você ter uma captação de água doce. Isso foi motivo de festa pra comunidade, porque a gente sabe que não vai servir só para a escola, vai servir para todos”, afirma a professora.

O período que mais marcou Clederley foram os anos de 1990 a 1993. “Foram três anos sem chover. Morreram muitos animais, de fome e de sede. O caminhão-pipa vinha e a gente saía com baldes para pegar água. Me lembro bem, porque foi na mesma época que eu estava concluindo o ensino médio e engravidei. Foi um período longo e marcou minha vida.”

Entre 2008 e 2010, a escola conviveu com a falta d’água. Em 2011, foi instalada uma cisterna de 16 de 16 mil litros, que supria apenas parte da necessidade para a manutenção das atividades. “Tenho certeza que meus filhos, meus netos, toda essa geração que está vindo, não vai ver o que nós vimos”, conta a professora. “Com uma cisterna dessa, jamais vai ficar sem água na comunidade. Sabendo utilizar, tendo os cuidados, não vai faltar mais.”

Sem parar – Inaugurado em 1988, o Colégio atende 116 crianças de 4 a 14 alunos dos povoados de São Roque, Caruaru e São João. Durante a manhã, ocorrem as aulas do Ensino Fundamental. À tarde, são desenvolvidas as atividades de tempo integral, por meio do programa Mais Educação. “Ter a certeza de que vamos ter água constantemente para manter a escola, o serviço não parar nem atrasar, isso é maravilhoso. Não vou mais me preocupar com isso e ter um tempo maior para pensar na parte pedagógica”, relata a diretora Diovania Carneiro dos Santos.

Antes, ela precisava pedir caminhão-pipa quando faltava água, senão as atividades da escola paravam. Em 2015, as aulas foram suspensas duas vezes, por três dias. “Uma tecnologia dessa, com uma capacidade enorme, é garantia do serviço, da alimentação, da limpeza. O serviço não vai parar agora. Já instalamos a água nos bebedouros”, conta a diretora. “Educação não se faz apenas com professor na sala de aula. Faz também com esse processo mínimo de educar a criança a não jogar o lixo no chão, manter o espaço limpo, o cuidado com o próprio corpo, cuidar do que ela tem.”

Desde o processo de escavação até a construção da cisterna, os alunos acompanharam tudo. A comunidade ajudou na construção, que levou oito dias e teve a participação de um pedreiro capacitado pelo Programa Cisternas, além de pais e amigos dos pais, em um mutirão. “Já se tornou significativo para eles. Eles vêm com vontade de ajudar e fazer tudo. Eles precisam saber o que possuem, para cuidarem”, diz Diovania. Os alunos terão aula sobre a implantação da cisterna, o processo de captação da água e os cuidados com manutenção da tecnologia. “É importante a gente estar inserido na realidade, porque a gente trabalha com educação no campo. Eles estão adquirindo o conhecimento de forma integrada à realidade deles.”

Diovania mora há 22 anos no povoado de Ipoeirinha e está na direção do colégio há quatro anos. “Estamos felizes da vida com a água que represou no final do ano”, comemora. “Esse bem foi maravilhoso”, afirma, com propriedade de quem sabe exatamente o que vai mudar na vida da escola, no preparo da merenda, no consumo de água pelos alunos e professores, na manutenção nos banheiros e da cozinha.

Até o ano passado, as crianças bebiam água de dois filtros de cerâmica, tecnologia também apropriada para tratar água para o consumo humano, mas que era insuficiente para atender toda a demanda da escola. Com a nova cisterna escolar, uma caixa d´água foi instalada para receber água direto da tecnologia social para os bebedouros, que ficam na área central da escola. Na cozinha, a água usada na higiene dos alimentos, no preparo da merenda e para lavar louças vem da torneira, proveniente de duas caixas de mil litros cada, que a recebem da cisterna por meio de um encanamento novo.

Programa – Desde que foi lançada em 2015 a modalidade Cisternas nas Escolas, até março deste ano, já foram construídas unidades em 2.241 escolas do Semiárido, para garantir a convivência com os períodos de estiagem. Além delas, o Programa Cisternas entregou, desde 2003, mais de 1,2 milhão de unidades de captação de água da chuva para o consumo familiar humano e 170 mil tecnologias para a produção de alimentos na região. Recentemente, o programa também iniciou a implantação de tecnologias apropriadas na região Norte.

Fonte: Ascom/MDS
Foto: Ubirajara Machado/MDS