Entrevista: "A luta faz a gente viver melhor"

07/03/2005

Mobilização, luta, igualdade, defesa dos direitos das mulheres - essas são algumas palavras constantes no vocabulário de uma trabalhadora rural dedicada à organização feminina no sertão baiano. O Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR) da Região do Sisal conta com Maria Madalena dos Santos Silva, uma das militantes mais experientes nas lutas femininas. Como ela mesmo diz: "a luta faz a gente viver melhor!"

Madalena e suas companheiras fazem do MMTR um espaço de discussão e busca de soluções para questões relacionadas ao universo feminino, que dificílmente são trabalhadas na pauta dos movimentos sociais mistos. Entre as ações desenvolvidas está a sensibilização das trabalhadoras, que precisam romper com uma defasagem histórica de submissão. Algumas temáticas em debate são o auto-estima feminino, a participação da mulher na sociedade, violência, exploração sexual e geração de renda. As mulheres organizadas traçam suas prioridades, demandas, reivindicações, propostas e estratégias de atuação.

Em comemoração ao dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o MOC resgatou a história de vida e luta desta líder do movimento femino da Região Sisaleira para a edição especial do do programa de rádio Encontro com as Comunidades.

Por quê a senhora dedicou parte de sua vida à luta das mulheres trabalhadoras rurais?

Madalena: Com a idade que tenho e com 25 anos acompanhando e construindo a história do MMTR, o que me faz ainda permanecer é realmente a necessidade da gente ver o movimento social cada dia crescendo em busca da cidadania. O que me fez mergulhar fundo, permanecer esse período todo no movimento é porque sempre a gente sonhou por dias melhores na sociedade, mais justa e igualitária.

Dos três filhos que teve, quais as lembranças que têm dos partos?

Madalena: A minha vida de mãe, nesse período dos partos era uma época muito difícil, porque primeiro no meio rural onde agente mora, a 15 km da cidade, é difícil a questão de parteira e o deslocamento para os hospitaiso é mais difícil ainda. Muitas das minhas companheiras sofreram conseqüências em relação ao parto e eu poderia ser uma vítima também, porque no meu quarto parto ... eu passei um momento difícil, só Deus foi o meu libertador, por hoje eu estar contando a minha história.

E a senhora perdeu o bebê?

Madalena: Perdi, sim. Meu quarto filho eu perdi e quase perco minha vida também.

Na sua atuação no Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais, existe alguma conquista que gostaria de destacar?

Madalena: Uma das conquistas que pra mim marcou mesmo é a questão dos direitos das mulheres garantido na Constituição Federal, que era uma coisa que não existia, a questão da aposentadoria das mulheres, salário maternidade, o salário mínimo, enfim toda a luta, pois eu lembro muito bem que em 86, a gente levava essas propostas para ser discutido no Congresso Nacional, pra ser incluído na Constituição Federal, e realmente é uma vitória. A gente saber que isso está garantido e que não foi uma coisa dada, mas, sim uma luta dos movimentos de mulheres e também dos movimentos sociais dos trabalhadores rurais.

O que ficou de negativo?

Madalena: Olhe o que ficou de tristeza pra mim, são muitas companheiras que perderam a vida nessa luta, é uma tristeza porque a gente perdeu as companheiras, mas, realmente é uma alegria de ver permanecer essa luta no dia-a-dia de outras companheiras.

O que falta ser conquistado ainda?

Madalena: Olhe, o que ainda falta pra as mulheres realmente, é ter aquilo que está na lei, pois, tem muita coisa no papel que realmente não está na prática, que a gente possa se mobilizar cada vez mais, para que seja garantido todo o nosso direito.

Do que a senhora conheceu nas atividades e viagens pelo Brasil, o que valeu a pena e ficou na lembrança?

Madalena: O que eu conheci e valeu a pena, foi realmente ver outras pessoas envolvidas no movimento, ver a unificação das lutas com outras entidades, então, isso me chamou muita atenção e fez com que eu permanecesse, e fizesse até com que eu amasse muito essa luta, que chegou até um ponto que até eu fiquei distante da minha família, mas agora com minha idade que já está chegando mais avançada, eu já estou me reaproximando da família e da minha comunidade.

O que Roque Silva, seu esposo, falou durante esses anos todos de tantas idas e vindas, nesta luta pelas causas das mulheres?

Madalena: O que sempre tem me falado é que já dei um bom tempo ao movimento, eu já lutei muito e agora ele está precisando de mim. A idade dele está mais avançada do que a minha e agora ele está precisando mais de mim. Ele já ficou só por muito tempo.

Qual a mensagem que a senhora deixa para as mulheres?

Madalena: Olha, nessa semana especial para as mulheres, eu queria parabenizar todas as mulheres que realmente arregaçaram as mangas, se mergulharam na luta, não olharam o sacrifício que enfrentavam, não olharam a discriminação que enfrentaram, mas foram em frente, que elas continuem com essa coragem e para aquelas mulheres que ainda não acordaram para vida, eu queria dizer a elas uma coisa: acorde para vida e vá a luta, porque tudo que chegou para nós foi uma conquista, foi uma luta que agente conseguiu, por isso, precisamos que isso seja mantido por outras companheiras também.

A senhora falou de companheiras, de lutas, existe na sua vida alguma heroína, alguma mulher que a senhora se espelha?

Madalena: Existe sim, eu podia lembrar de algumas companheiras que faleceram, como por exemplo, a Margarida Alves que foi uma que morreu na luta por dias melhores, e outras que não estou me lembrando agora, e a gente ver no dia-a-dia aí na nossa vida, muitas mulheres que abandonam suas casas, sua família, porque não pensa em si, mas pensa no maior que é uma população.