Mulheres sertanejas comemoram suas conquistas

11/03/2008

Sábado, 08 de março de 2008. Ansiosas, mulheres de Feira de Santana embarcam no ônibus para Riachão do Jacuípe, aonde iriam comemorar o Dia Internacional da Mulher. No auditório do Riachão Palace Hotel, cerca de 200 trabalhadoras rurais dos Territórios da Bacia do Jacuípe, Portal do Sertão e Sisal queriam celebrar as conquistas e reivindicar seus direitos. Apesar das dificuldades para a realização do evento, homens, crianças e mulheres de todas as idades participaram de um momento que certamente ficará guardado na memória de todos.

Após acolher os participantes, a presidente do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR), Maria José, aparece acompanhada de uma filha e caracterizada de grávida. Em seguida, mais uma integrante do MMTR surge vestida de homem, marido e pai das outras personagens. A cena causou risos, mas na verdade abordou um tema freqüente nos dias de hoje: A violência doméstica e familiar contra a mulher, que tem dificuldade em denunciar os agressores pois, na maioria dos casos, são os mantenedores da casa. A dramatização chamou atenção para a Lei Maria da Penha, que está em vigor desde 2006 e garante a prisão do agressor.  

Além da violência, foram discutidos temas como meio ambiente, documentação, educação, crédito e geração de renda. Nem mesmo o forte calor tirou o brilho das mulheres, que juntas cantaram as músicas do grupo Mulheres que Cantam e Encantam.

 

Homenagem – O dia foi de todas as mulheres, mas, a grande homenageada foi a trabalhadora rural Gesselina Mota do Reis, que há mais de 25 anos defende o direito da mulher em Riachão do Jacuípe. Comovida, a trabalhadora reviveu momentos difíceis que marcam a discussão sobre gênero no município. “Teve uma manifestação que disseram que as mulheres iam levar cacetada. Aí eu disse que se a gente levasse, a gente também ia dar”, conta.

Após reviver décadas passadas, Gesselina Mota afirma não ter muito jeito com as palavras, no entanto, emociona a todos ao cantar a música que virou símbolo do MMTR: “Entrei na luta, da luta eu não fujo, pela igualdade, da luta eu não fujo, pelos direitos, da luta eu não fujo, para construir uma nova sociedade...”.

Demandas – Representantes de entidades da sociedade civil e do poder público, estiveram participando do evento e parabenizaram às mulheres sertanejas pela coragem e força com a qual enfrentam os problemas. “Ser mulher é difícil, no semi-árido baiano é mais difícil ainda”, disse Gilca Carneiro, representante da secretaria de políticas para as mulheres da Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região Sisaleira (FATRES).  

Para a deputada estadual Neusa Cadore, as mulheres do semi-árido baiano estão honrando a luta internacional da mulher. “As mulheres estão se mobilizando, organizando, acessando crédito no banco e tirando documentação. Estas são conquistas que não caíram do céu. São os resultados da nossa luta”, afirmou a deputada.  

Vereador no município, José Avelângio fez um alerta ao mencionar a situação das jovens em Riachão do Jacuípe, que segundo ele estão envolvidas no consumo de drogas e sendo exploradas sexualmente. “Esta é uma oportunidade de alcançar mudanças ímpares no município. O Movimento de mulheres é um exemplo para as jovens que estão sem fazer nada”.  

Após as apresentações teatrais, jovens entregaram aos representantes da sociedade civil e do poder público propostas de políticas públicas nas áreas da saúde, educação, geração de renda, documentação, cultura, infra-estrutura e habitação, saneamento básico e recursos hídricos.  

Sobre o cooperativismo, o presidente da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), José Paulo, falou que ainda é um segmento machista e que as mulheres precisam aproveitar o momento dos governos Lula e Wagner para consolidar o Movimento de Mulheres. Disse ainda, que a geração de renda é importante para dar autonomia e independência, se comprometendo a criar uma linha de crédito específica para as mulheres. “As mulheres têm que criar suas cooperativas, para que elas mesmas possam gerenciar seus recursos e alcançar a independência tão desejada”.


 

“Mulher Unida, jamais será vencida” – Este foi o grito de ordem durante a passeata realizada ainda no dia 08 de março, onde os participantes, utilizando apitos, bandeiras e faixas, mobilizavam a população em torno dos direitos das mulheres. Com o apoio de um carro de som, eles aproveitaram o espaço para divulgar a Lei Maria da Penha e a Campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”.  Com muito ânimo, Gesselina Mota e suas companheiras demonstraram mais uma vez que a mulher não é um “sexo frágil” e que não recua mesmo com tantas adversidades.


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