40 anos do MOC: Uma festa da participação popular

03/10/2007

Uma organização não-governamental que ao longo dos anos tem se inserido na caminhada de convivência com o semi-árido e de construção de novas perspectivas para o seu povo. Tem sido assim a trajetória do Movimento de Organização Comunitária (MOC), que comemorou no dia 27 de setembro 40 anos de “vida útil”.

O Centro de Cultura Amélio Amorim, localizado em Feira de Santana, estava repleto de pessoas que queriam – e deviam - festejar junto com a equipe do MOC quatro décadas de trabalho. Deviam, porque o trabalho desenvolvido pela entidade e seus parceiros só tem sentido com a participação do público prioritário.

E foi assim durante todo o dia de comemorações. Pessoas que vieram dos mais diversos municípios da Região Sisaleira da Bahia e que de alguma forma contribuíram para o sucesso da festa. Trabalhadores e Trabalhadoras rurais, crianças, jovens, adolescentes, educadores, comunicadores, mulheres. Juntos, mostraram à terra do comércio que os sertanejos são fortes. Fortes não apenas por enfrentar os períodos de estiagem, mas, por acreditarem que é possível garantir a sobrevivência no semi-árido.

Mobilização – Talvez esta seja a palavra que melhor represente o trabalho do MOC ao longo destes anos. Mobilizar as pessoas, as comunidades, para discutir os problemas do cotidiano. Por causa desta mobilização e ajuda na organização dos grupos, o MOC é definido pelo presidente da entidade, Clóvis Lima, como uma organização que incomoda. “Ao lado da sociedade civil, ao lado dos mais fracos, ao lado dos perseguidos, ao lado dos excluídos, tem ajudado na busca de alternativas, sem jamais se apoderar das suas bandeiras de luta”.

De acordo com Clóvis Lima, a grande mudança do trabalho do MOC com relação ao semi-árido, é que tirou do povo a idéia da absoluta dependência que interessa a alguns. “Mostrou que sabendo conviver com o semi-árido, pode-se tirar dele o sustento, a sobrevivência e fazer o seu desenvolvimento sustentável”, afirma o presidente.

Desenvolvimento que foi ressaltado pelo Governador da Bahia, Jacques Wagner, presente durante a mesa solene de abertura. Em sua fala, o Governador citou a vontade das pessoas permaneceram em sua terra e parabenizou o trabalho da entidade. “A nossa gente agora quer viver no seu território, quer lutar por ele. Eu sou filho do movimento sindical e, como tal, não poderia deixar de participar dessa festa do MOC, que cumpre tão bem o seu papel”, declarou Jacques Wagner.

Relembrar o passado – Durante as comemorações pelos 40 anos, a emoção tomou conta de muitos dos participantes. Albertino Carneiro, idealizador do MOC, relembrou alguns momentos que marcaram o inicío do trabalho. A instituição, que surgiu no período da ditadura militar, era muitas vezes chamada de “Movimento Operário Comunista” e o trabalho em organizar as comunidades carentes de Feira de Santana, rendeu para Albertino, que na época era Padre, o título de “Padre dos pobres”.

“Os primeiros anos do MOC se confundiam com os meus primeiros anos de sacerdócio e do meu compromisso de atuação junto às camadas pobres da população de Feira”, escreve Albertino na publicação “O MOC na linha do tempo”, que foi lançada na tarde do dia 27. Nela, estão registrados os momentos que mais marcaram a caminhada da instituição no decorrer das décadas.

Quem também teve a oportunidade de relembrar o passado foram os protagonistas das histórias de vida divulgadas no site do MOC. Antônio José, Camila Oliveira, Davi Andrade, Ivonete Carneiro, Breno Santiago e Madalena dos Santos, testemunharam a contribuição das ações do MOC para a transformação em suas vidas. Transformação como a do pequeno Breno Santiago, 12 anos, que trabalhava no campo de sisal e hoje tem o direito à educação assegurado.

Fonte de sonhos - Um dos momentos mais esperados do dia foi a palestra do teólogo Leonardo Boff, que apresentou o vídeo “A carta da terra”, produzido por ele, e que busca alertar a população para as mudanças ocorridas no planeta decorrentes da ação humana.

No entanto, antes de palestrar sobre o desenvolvimento ecologicamente sustentável, Leonardo Boff emocionou a todos ao dizer que o MOC aplica a Teologia da Libertação no nível popular. Disse ainda que viu em Breno Santiago os ensinamentos de Paulo Freire.

“Vendo os textos e escutando os depoimentos hoje aqui, fiquei profundamente impressionado e firmei a convicção de que isso é a teologia da libertação aplicada ao nível popular. Porque a marca registrada da teologia da libertação é a opção pelos pobres, contra a pobreza e a favor da vida. E o pobre como sujeito da sua história e não como beneficiário das caridades das classes e da igreja. Um dos princípios fundamentais que o Padre Albertino colocou no MOC, é fazer do próprio povo, dos habitantes do semi-árido, sujeitos de sua libertação e de sua história”.

“Eu quando vi o menino Breno, eu disse aqui está Paulo Freire. Menino que libertou sua palavra e a libertação da palavra é o primeiro sinal de liberdade. Ele mostrou aqui uma narrativa altamente interessante, fluente e extraordinária”.

O MOC, definido para alguns como uma escola, como instrumento de luta e de força, foi definido pelo teólogo como uma fonte de sonhos, que não apenas suscita sonhos, mas, realiza sonhos. O desejo em ver estes sonhos serem realizados, mostra à sociedade que o semi-árido não é uma “terra semi-morta, de gente semi-morta”. É sim, uma terra de autores, que a cada dia vão construindo a sua própria biografia, mudando o rumo das suas histórias.


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