Jornal de Valente sai do ar

20/06/2007

Os meios de comunicação comunitários são ferramentas de extrema importância para o fortalecimento do debate sobre a democratização em favor das comunidades. Local onde as pessoas tem voz e se fazem ouvir pelos demais segmentos da sociedade, permite que sejam expostos problemas, discutidas soluções e também divulgada a cultura. Um espaço como este existe no município de Valente desde 2001: o Jonal de Valente, que foi suspenso pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), na manhã de 13 de junho de 2007.

Criado pela Associação de Desenvolvimento Sustável e Solidário da Região Sisaleira (APAEB), quando a entidade percebeu que a comunicação é um instrumento que pode ser utilizado em benefício da comunidade. Inicialmente havia um projetode tv itinerante, que exibia sua produção para comunidade da zona rural e urbana em telões. A APAEB que já costumava investir em outras formas de comunicação, como boletins informativos e programas veiculados nas rádios comunitárias, a exemplo da Valente FM, ganhou o apoio e a audiência da comunidade com esta experiência itinerante, que segundo Ney Carlos da Silva, coordenador administrativo da APAEB , “a população foi se sentindo dona e participante ativa do projeto”.

Vendo a necessidade de ampliação, a APAEB buscou parceria com a organização internacional Volens, que financiou a maior parte dos custos para implantação de uma produtora de TV, e partir daí foi firmada uma parceria com a TV Cultura do Sertão, de Conceição do Coité, que cedia um espaço de 30 minutos para veiculação das matérias produzidas para um programa jornalístico exibido das 18 horas e 30 min às 19 horas, sendo repetido na manhã seguinte.

Com a paralisação das atividades da TV Cultura Sertão, o município ficou carente deste espaço de ativa participação popular, percebendo a importância deste meio para denunciar os problemas da comunidade, a própria produtora do município começou a veicular durante trinta minutos um telejornal, voltado para estas necessidades.

A busca pela legalização – Há dez anos a Associação de Teleprodutores do Sisal iniciou uma luta no Congresso Nacional pelo direito de outorga, autorização que permite o funcionamento legal de uma TV no município, mas ainda não foi atendida. Existe no município num projeto para TV Itinerante Valente por não ter esta autorização teve todos os seus equipamentos apreendidos durante a visita da ANATEL.

Para Ney Silva, embora a TV não seja juridicamente comunitária, na prática ela possui este caráter, uma vez que o trabalho desenvolvido é construído junto com a comunidade, com sugestões de pauta voltadas para atender as suas demandas.

Experiências com a juventude - Um exemplo disso é o Projeto Repórter Cidadão, que dá oportunidade para jovens do município e das comunidades rurais aprenderem a manusear equipamentos utilizados em produção jornalística, como câmara e ilha de edição. Além de aprenderem a identificar temas referentes à realidade de suas comunidades para compor a pauta. A finalidade maior é ajudar o jovem a formar uma leitura crítica dos meios de comunicação.

Democratização da comunicação - Questões como falta de financiamento para essas organizações comunitárias desenvolverem seu processo de comunicação são os entraves para que a Região do Sisal conquiste uma comunicação mais democrática.

Segundo Paulo Marcos, comunicador da rádio educadora Sábia FM, o fato das organizações comunitárias terem dificuldade de concorrer diretamente com grupos oficiais financiados por empresários ou políticos, os coloca em desvantagem, uma vez que não possuem equipamentos e profissionais qualificados, além de serem perseguidos devido ao processo burocrático de outorga. Enfim, uma série de fatores que coloca em questão o direito universal à comunicação.


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