Semi-árido em alerta

25/04/2007

O Relatório sobre o clima, divulgado em 6 de abril, na Bélgica, aponta que é de 90% a responsabilidade do homem sobre o desequilíbrio climático em todo o planeta. Segundo o documento, o aquecimento global elevará a temperatura nas zonas de clima temperado e intensificará ainda mais nas áreas de clima quente, como o semi-árido brasileiro, modificando a sua estrutura e o conceito de convivência com a região.

O aumento no nível da temperatura será de 1º a 3º C nos próximos anos. Essa mudança trás em curto prazo, benefícios para a agricultura nos países de clima frio, no entanto para as áreas quentes da região do Nordeste brasileiro a escassez de recursos hídricos dificultará o plantio, tornando agudo o quadro de desertificação do solo.

Para além destas transformações está a própria sobrevivência do bioma natural e o convívio do homem sertanejo que é parte integrante deste sistema de vida. Os impactos no semi-árido estarão atingindo as esferas econômicas, sociais e também culturais de um modo geral. Com a ampliação do aquecimento estima-se que haja uma queda em torno de 15% no nível de precipitação, o que interfere diretamente na dinâmica de sobrevivência.

Pensar alternativas para diminuir este efeito é uma das preocupações de organizações que buscam contribuir com a qualidade de vida no sertão. Criar saídas para melhorar a adaptação desta nova realidade é um dos objetivos de Organizações Não-Governamentais (ONGs) como a Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) e o Movimento de Organização Comunitária (MOC), que trabalham com programas que incentivam o desenvolvimento sustentável.

Ações pela convivência - Para Luciano Silveira, que representa o estado da Paraíba na Coordenação Executiva da ASA, é preciso fazer um movimento muito forte que repense o padrão de ocupação do Semi-Árido. “Isto remete ao padrão de desenvolvimento que não agrida tão intensamente os recursos, pelo contrário, que seja capaz de regenerar a natureza”, ressalta Luciano.

O processo de aquecimento já está em curso, mesmo adotando medidas como diminuir a emissão de gás carbônico, o resultado será obtido em longo prazo. Uma vez que a ação predatória do homem sobre a natureza se intensifica desde a Revolução Industrial no século XVII, é difícil parar bruscamente este processo sem que haja prejuízos para as gerações atuais.

De acordo com Naidison Baptista, secretário executivo do MOC, a ampliação da consciência social é um dos passos importantes para conter estes efeitos. Ele diz ser preciso buscar perspectivas contrárias junto à sociedade, nos sindicatos, associações, escolas e também nas famílias. “Temos condição de fazer a natureza caminhar, embora nos encontremos em uma situação difícil e em certos pontos irreversível. É preciso que cresça a consciência de que o semi-árido é capaz de encontrar meios de convivência e adaptação”, alerta Naidison, que vê como desafio principal o aprofundamento nas formas de uso dos recursos naturais para promover a sustentação e a recomposição deste ecossistema.