Mãos que mudam vidas

25/07/2006

Nas pequenas comunidades de Recreio, a 6 km do município de Valente, e Boa fé, a 9 km do município de São Dominhos, na Região Sisaleira da Bahia, freqüentemente atingida pela seca, cerca de trinta mulheres estão buscando alternativas de vida digna no campo, trabalhando com artesanato. A produção de tapetes, cestas, bolsas e chapéus feitas com fibras de sisal está contribuindo para a modificação da vida dessas mulheres. “O pouco que a gente ganha já garante uma ajuda importante dentro de casa”, afirma Lídia Lopes Oliveira, 58 anos, fundadora do grupo de artesãs na comunidade de Recreio.

Dona Santinha, como é conhecida na comunidade de Recreio, começou a desenvolver o trabalho de artesã apartir de um curso que participou em São Paulo em 1998. Para ela, tudo que aprendeu deveria ser repassado para outras mulheres na comunidade. “Aqui é um lugar que não tem trabalho, então eu entendi que as outras pessoas também poderiam ganhar dinheiro fazendo o artesanato, e eu estou muito feliz por isso”, afirma emocionada. Para Valdeane Lopes, 28 anos, filha de Dona Santinha, o trabalho realizado na comunidade só tem somado forças e ajudado na vida das mulheres. “Trabalhar com esse grupo é muito satisfatório, em especial porque tenho a minha própria mãe que começou essa história e hoje esse sonho, virou uma realidade concreta”, revela. Além de Valdeane, suas irmãs Iranilma e Joyce, estão buscando no artesanato uma saída para a melhoria na qualidade vida.

Atualmente, as mulheres da comunidade de Recreio produzem cerca de oitenta peças mensais, que são enviadas para a Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão (Cooperafis) no município de Valente. A entidade surgiu em 1999 com o objetivo de viabilizar a comercialização dos produtos artesanais. Hoje, a Cooperativa agrega 10 núcleos de produção nos municípios de Valente, São Domingos e Araci contando com 147 artesãs que através da Cooperafis já conseguem exportar seus produtos somando no total 800 peças mensais. Para Elione Alves, presidente da entidade, um dos maiores desafios é a conquista e a permanência no mercado. “O nosso mercado ainda não é regional. Os produtos estão sendo mais vendidos para o mercado no Sul, Sudeste e recentemente para o estado de Pernambuco”, comenta.

Além de se encontrarem na sede dos núcleos em suas comunidades, as mulheres também acabam fazendo o tricô no sisal em suas próprias casas. Alice Lima da Silva, residente na comunidade de Boa Fé, diz estar muito satisfeita com o trabalho que a cooperativa vem fazendo junto os núcleos de produção. “No meu entendimento, a Cooperafis só vem ajudar no trabalho que a gente desenvolve por aqui. Como em todo lugar, nós passamos por dificuldade, mas acreditamos e estamos juntas buscando melhorar a nossa produção para garantir que os nossos produtos sejam vendidos, assim é melhor para todo mundo”, conta sorridente. Ela ainda complementa: “Agora que completei 55 anos já dei entrada nos papéis da aposentadoria, mas o artesanato eu não deixo de jeito nenhum, isso aqui para mim é uma diversão”, finaliza.

A gestão da cooperativa é feita pelas próprias artesãs. “Nós participamos de todos os processos, desde a construção das peças nas comunidades, até o momento de prestação de contas, ou seja, a base sempre fica sabendo de tudo que acontece aqui 0e isso para nós é muito gratificante”, relata Elisandra da Silva, artesã e diretora financeira da Cooperativa. Mensalmente, a entidade realiza reuniões com coordenadoras dos núcleos de produção com o objetivo de avaliar o andamento dos trabalhos e discutir saídas para os problemas enfrentados pelos empreendimentos. “Estamos juntamente com a diretoria da Cooperafis buscando formas para conseguir superar um grande desafio, a construção da nossa própria sede”, afirma Valdeane Lopes, artesã da comunidade de Recreio. Atualmente, a cooperativa conta com o apoio da Petrobras, Central de Cooperativas e Empreendimento da Economia Solidária (UNISOL) e dos movimentos sociais da região sisaleira da Bahia.

Conquista de Espaços – A Cooperativa de Artesãs de Valente têm buscado espaços de discussão política para viabilizar recursos para produção e estruturação física dos núcleos. Um espaço ocupado é o Conselho Regional de Desenvolvimento Territorial da Região Sisaleira (CODES Sisal) que já surte efeitos positivos. “Nós conseguimos recentemente aprovar um projeto que garante a construção e a compra de equipamentos para a comunidade de Queimadinha, isso vai facilitar de forma positiva o trabalho desenvolvido pelas mulheres”, revela Elione Alves. Além disso, foi garantida também a construção da sede de comercialização no município de Valente.

Além da participação em espaços políticos a entidade também tem procurado feiras e eventos para a divulgação e visibilidades dos produtos da Região Sisaleira. “Podemos destacar a nossa participação em 2005, no Fashion Business no Rio de Janeiro. Nesse espaço as peças feitas pelas artesãs foram muito procuradas, um sucesso total”, conta satisfeita Elisandra da Silva. O Fashion Business é uma bolsa de negócios que integra a programação do Fashion Rio, evento de moda no Rio de Janeiro que reúne expositores e compradores, dezenas de grifes, novos estilistas e pólos de moda do Rio de Janeiro e de vários estados do Brasil e do exterior.

As artesãs da região, através da Cooperafis, garantem a permanência de quatro produtos como linha de frente na Tok&Stok, loja de artigos de decoração em Salvador, são eles: os tapetes de tricô, jogos americanos, descansos de panela e portas guardanapos de rodinhas.


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