“Já estou vendo nossa qualidade de vida melhor, diferente, são marcas boas”

20/02/2015
“Já estou vendo nossa qualidade de vida melhor, diferente, são marcas boas”

Dona Izabel dos Santos Lima há muitos anos viveu na comunidade de Mandassaia II, município de Riachão do Jacuípe, semiárido baiano, onde fixou suas raízes. Ali criou seus 11 filhos vendendo saborosos doces e bolos feitos por ela mesma. Anos mais tarde seus quitutes serviram de grande referência para o nome da marca “Quitutes Dona Izabel” do Grupo de Produção das Mulheres de Mandassaia II, formado por mulheres da comunidade, inclusive por duas de suas filhas.
 
Uma delas, dona Maria Odelice de Lima Matos, casou-se com seu Delfino Maia de Matos e, com muita alegria, contam que ali tiveram e criaram seus três filhos, Everton, Tainá e Tailana. “Quando casei e tive os filhos não queria criar preso na cidade e, graças a Deus, criei aqui e acho que acertei, porque eles gostam muito daqui e trabalham pensando na zona rural”, relata dona Odelice orgulhosa dos filhos que seguiram a formação na área da agronomia e agropecuária e, desde pequenos, aprenderam com os pais a sempre ter fé, persistência, determinação e a nunca perder o amor à terra. 
 
Luta familiar
Seu Delfino relata muitas das suas histórias de vida no campo. Uma delas é o seu amor às abelhas. Em sua propriedade, como apicultor, já chegou a comercializar duas vezes por ano, cerca de 200 litros de mel. Dentre outras, também conta a história da construção de sua cisterna, uma das primeiras do projeto P1+2 da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). “Passamos três meses cavando no braço e na terra dura”. Hoje, seu Delfino e dona Odelice dedicam seu tempo à associação de moradores, ao grupo de produção, a agricultura familiar e aos criatórios de animais diversificados. Além do mel, comercializam quiabos, hortaliças, feno, ovos, batata-doce, caxixe, abóbora, maxixe, cana-de-açúcar, laranja, pinha, mamão, coco.  Mas, sem dúvida, o que levou o casal a conquistar seus sonhos foi o amor ao trabalho no campo e a união da família que enche de orgulho seus corações.
 
Tainá, assim como seus irmãos, desde muito pequena já sinalizava sua paixão pela terra onde nascera. Aos 7 anos ingressou no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e ali conheceu o projeto Baú de Leitura que desperta nos alunos o prazer pela leitura e o encantamento pelos livros. Com a iniciativa do projeto, aos 12 anos, Tainá participou do programa “Canal Aberto”, na TV Subaé, em Feira de Santana. "Contei o resgate da cultura da minha comunidade e naquele tempo era uma coisa histórica, porque ficava a pergunta de como uma filha de agricultor e agricultora conseguiu chegar aí?”, lembra.
 
Depois de nove anos no PETI, Tainá foi secretária e presidente da associação de moradores da sua comunidade e começou a participar de projetos realizados pelo MOC como o Projeto Prosperar e o Projeto Parceiros/as por um Sertão Justo. Este último com crianças. Uma dessas crianças, Nilzandra Silva, que ali tudo ouvia, cresceu, e hoje faz parte do grupo de produção que leva a marca dos quitutes da avó de Tainá. Além disso, Tainá ingressou no curso técnico em Agropecuária, em Feira de Santana, e mais tarde passou a integrar a parte técnica no MOC, após seleção. “Hoje é só vitória, graças a Deus, mas não foi fácil. Ninguém vem ao mundo por acaso. Até Jesus passou por tantas dificuldades! Minha raiz tá aqui e quero ajudar, porque temos que deixar nossas marcas senão não adianta ter passado. Já estou vendo nossa qualidade de vida melhor, diferente, são marcas boas”, diz.
 
Sua irmã Tailana, hoje com 23 anos, também sempre atenta ao desenvolvimento local, participou do Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural (PJER) e também optou em ser Técnica em Agropecuária.  Everton, o irmão mais velho, hoje com 27 anos, faz Agronomia e, junto a Tainá, escreveu um projeto que foi um dos selecionados dentre 800 projetos sociais inscritos em todo o Brasil pela ONG BrasilFoundation. 
 
O Grupo de Produção das Mulheres
O projeto escrito por Everton e Tainá viabiliza iniciativas de apoio ao desenvolvimento do Grupo de Produção das Mulheres de Mandassaia II, dentre elas, a construção da sede própria, capacitações, e a compra de equipamentos que possibilitarão maior produtividade, valorização da mão de obra feminina, geração de emprego e renda e o incentivo à permanência dos jovens no campo. O terreno para a construção da sede do grupo – que está quase pronta - foi doado por dona Odelice, a mãe de Tainá, que já ministra cursos de fabricação de sequilhos em outras comunidades. 
 
As mulheres do grupo hoje produzem sequilhos de vários sabores, mas já sonham com a produção de temperos e polpas de frutas. Os sequilhos são comercializados através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e através do projeto os produtos vão receber os selos com os códigos de barra e com informações nutricionais. “Aqui nunca tivemos emprego e não se tinha dinheiro, mas graças a Deus temos o trabalho com sequilhos e já conseguimos muita coisa”, comemora Vanilda Lima, irmã de dona Odelice. O grupo, que agora vai registrar a marca ‘Quitutes Dona Izabel’, resgata a cultura da comunidade e as tradições da matriarca Dona Izabel, além de permitir a economia solidária e o comércio justo na vida de muitas famílias daquele local. 
 
As "amigas abelhas", que seu Delfino tanto admira, colaboram para a polinização das plantas, pois ao se alimentarem nas flores, carregam junto ao corpo o pólen, e levam esse pólen para outras flores, tornando possível a reprodução das mais variadas plantas. No caso da família Lima Matos, todos se alimentam de sonhos possíveis, reproduzem esses sonhos, somam saberes, fortalecem o processo de resistência e tornam muito possível a convivência com o Semiárido brasileiro.