Jovem do Semiárido abre trilhas por caminhos e oportunidades

04/11/2014

Anderson Flancklin, jovem agricultor, 20 anos, morador da Comunidade de São Lourenço, em Riachão do Jacuípe, seria um jovem como qualquer outro se ele não buscasse trilhar por caminhos e oportunidades, na maioria das vezes, criados por ele mesmo. Anderson valoriza suas experiências, abre novas trilhas, explora novos conhecimentos, define objetivos e dá o primeiro passo.  

“Era 3º ano do ensino médio e fui imprimir um trabalho sobre horticultura e a dona da gráfica me falou sobre uma seleção para formação de jovens rurais como eu, e disse que estava sendo desenvolvido pelo MOC”, começa assim a narrar sua experiência como futuro integrante do Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural – PEJR, uma das diversas oportunidades abraçadas por ele. “Passei por uma seleção bastante concorrida. Fiquei entre os primeiros colocados, mas não fui selecionado. Liguei e me explicaram que seria difícil o custeio do transporte de só um jovem para Feira, já que era o único selecionado do município de Riachão”, lembra. 

Engana-se quem pensa que Anderson se conformou com a decisão. Ele insistiu. “O pessoal do projeto gostou tanto da minha postura em ter corrido atrás da vaga, que marcou nova seleção só para jovens de Riachão. Foi quando mais quatro foram selecionados e nós cinco ingressamos no PEJR”, conta. O Programa foi iniciado em 2001 oferecendo uma formação complementar à educação formal, tendo como público-alvo jovens rurais, com idades entre 16 e 29 anos. 

Intercalando teoria e prática e a participação da família, Anderson mesmo antes de concluir sua proposta de negócios, denominada no curso como “projeto de vida”, passou na seleção do Programa de Águas e Segurança Alimentar, como monitor do curso de Gestão da Água para a Produção de Alimentos (GAPA) e de Sistema Simplificado de Manejo da Água (SISMA), passando a prestar serviços ao MOC e Apaeb Serrinha.  “Apesar da dificuldade de conciliar tudo e antes da conclusão do PEJR e com o dinheiro recebido nas monitorias do Gapa e Sisma, coloquei em prática meu projeto do curso que fiz pensando na criação de galinhas caipiras”, conta  complementando que logo em seguida comprou seu primeiro lote com 200 pintos e teve lucro com a comercialização deles vivos. 

Protagonismo Juvenil
Não pára aí. Novas trilhas são abertas por Anderson. Ao concluir o curso no final de 2012, fundou a Cooperativa de Jovens Empreendedores Rurais –COOPJER, junto com a primeira e segunda turmas do PJER, com apoio do MOC e da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar – Unicafes. Hoje atua como presidente da Cooperativa. “O programa de juventude do MOC corria o risco de enfraquecer com a retirada do financiamento do Instituto Souza Cruz nos deixando preocupados de como discutir juventude em nossos territórios. Muitos municípios discutiam suas realidades e todas diferentes dentro do nosso território, daí a idéia de se constituir a Cooperativa”, diz. O grupo já conquistou na Unicafes um projeto de formação em cooperativismo para o ano de 2014 e já garantiu outra turma para 2015.

“Quero fazer com que a nossa cooperativa represente a juventude no nosso território, porque é muito fraca essa representatividade de juventude. As oportunidades são limitadas e muitas vezes não se consegue chegar até as comunidades rurais e aos centros periféricos excluindo nossos jovens dos espaços de políticas públicas e cidadania da nossa sociedade nos territórios do Sisal, Bacia do Jacuípe, Portal Do Sertão e do Semiárido Nordeste II. É um desafio coletivo”, declara ser esse o próximo desafio a ser conquistado. 

Recentemente dez jovens da Bahia foram selecionados para participar do V Intercambio Nacional do Jovem Rural, realizado pela rede em quatro estados brasileiros. Na segunda etapa do evento, que aconteceu em Santa Catarina, foram escolhidos três jovens dentre eles, o jovem Anderson. “Conhecemos as escolas famílias agrícolas, lá conhecidas como casa familiar rural. São formados para trabalharem dentro das próprias propriedades. O modo de cooperativismo de lá me chamou a atenção bem como a sucessão rural por ser o processo de comando da propriedade de pai para filho. Aqui a maioria dos jovens não vêm expectativas nessa sucessão, acredito que falta sensibilizar mais os pais nesse sentido”, declara. Segundo Anderson, a maior fonte de renda da cidade catarinense Saudades, é a agricultura e daí a importância da sucessão rural. “Não penso em implantar o que vi lá por aqui, devido ser realidade completamente diferente da nossa, mas o que precisamos é potencializar essas forças e levar o conhecimento contextualizado ao produtor”, comenta. Na sua inquietude natural sonha também com uma política universal de educação do campo para o Semiárido brasileiro. 

Matriculado em Administração, mas já pensando na graduação em Agronomia, confessa que seu sonho anterior era fazer Direito e morar em Salvador. “Depois do que tenho aprendido comecei a ter uma visão diferenciada. Quero fazer o curso de Agronomia, mas não trocando o rural pelo agronegócio. Hoje tenho uma cisterna-enxurrada e comecei a fazer modificações na nossa propriedade, indo até contra a vontade de meu pai que utilizava de queimadas, desmatava áreas”, confessa. “Aprendi muita coisa e hoje tudo mudou depois da tecnologia de captação de água para produção adquirida pelo projeto da ASA. Temos tudo no nosso quintal produtivo do tomate, às hortaliças e pimentas. Pense numa pimenta boa!!. Nossa renda aumentou e com esse dinheiro fazemos outras benfeitorias na propriedade”, ressalta acrescentando que seu sonho pessoal hoje é ter mais tempo para se dedicar a essa propriedade.
 
Muitas das técnicas aplicadas por ele e seu pai na propriedade da família são repassadas por Anderson aos produtores/as durante os cursos de Gapa e Sisma que monitora. “Gosto de trabalhar com técnicas que nos trazem melhorias de vida, segurança alimentar, aumento da renda familiar. Antes o que minha família comprava na feira se estragava logo, hoje tudo é natural, com segurança alimentar diferenciada. Me incentiva praticar e passar essas experiências e vê-las colocadas em prática. Tudo é muito gratificante”, e complementa: “O que me deixa feliz mesmo é quando chego na casa de um agricultora e percebo que ali se apresenta um Semiárido possível, viável, direcionando técnicas que nos apontam as potencialidades que tem na terra de cada um. Ver que eles conseguiram absorver o que lhes foi passado na formação. O melhor é que muitos têm sido destacados como exemplos bem sucedidos em suas experiências”, conclui.

Além das atividades acima, Anderson também trilha ativamente através das ações do Coletivo de Jovens, da Associação Comunitária do local onde mora, do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Riachão do Jacuípe, e é coordenador de base da Igreja Católica da comunidade de São Lourenço. 
 


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