Agentes de Família formam elo de ligação entre sindicato e comunidade

11/07/2007

Com o nascimento do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) muitas dúvidas surgiram e com elas a necessidade de que as famílias contempladas com o programa se apropriassem das transformações que ali se iniciavam, assumindo o papel de protagonistas do processo. Para esclarecer e orientar estas famílias o MOC desenvolveu no ano de 1999 o Projeto Agente de Família (PAF), realizado até o ano de 2005.  

O Projeto que teve apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Sindicatos dos Trabalhadores Rurais chegou a atender 29 municípios da Região Sisaleira, contando com o trabalho de 320 agentes. Hoje existe apenas no município de Riachão do Jacuípe, com 10 agentes, atendendo à 10 comunidades. 

O trabalho é quase voluntário, os agentes recebem uma bolsa auxílio que inicialmente era de R$ 30 chegando atualmente ao valor de R$ 70.  No entanto, a relação construída entre as famílias e os agentes extrapola qualquer tipo de dificuldade no momento de identificar os problemas das comunidades e levá-los para serem discutidos no sindicato. O sucesso dessa metodologia de acompanhamento das demandas de educação, saúde e geração de renda, demonstram por que o Sindicato dos Trabalhadores de Riachão adotou o projeto.  

 Para Teodomiro Paulo Cerqueira, secretário do sindicato, dar continuidade a este projeto é um investimento “Nós fizemos uma avaliação do projeto no município de Riachão e entendemos que ele era um projeto que não poderia acabar pelos benefícios que eram levados para as famílias e o crescimento que proporcionou ao sindicato e o movimento social”.

O dia-a-dia de uma agente de família – Um ir e vir constante, levando informações e atendendo às famílias, é trabalho de quem vai longe, de comunidade em comunidade em busca de transformar a realidade das muitas crianças que, antes do PETI, trocavam o sonho de uma vida melhor através da educação pela necessidade de garantir a própria sobrevivência trabalhando. 

Entrar nas casas e conquistar a confiança destas famílias já machucadas pelas adversidades não é tarefa fácil, mas, Luzinete Lopes, agente desde o início do projeto, obteve êxito.  “É uma relação de amizade e confiança, mesmo que em alguns momentos sejam encontradas famílias difíceis, no primeiro contato é feita uma visita amiga. A partir de então incentivo as mães à enviarem seus filhos para a Jornada Ampliada, a acompanhá-los, mostrando a importância de estar naquele espaço e sempre manter contato com as monitoras do PETI, avaliando o desempenho”. Segundo ela todas as famílias são conquistadas.  

Orientar quanto à freqüência na sala de aula e na Jornada Ampliada, dar noções básicas de saúde e alimentação, incentivar as famílias a buscarem atividades que possam aumentar renda são os objetivos principais desses “educadores-populares”.

Assegurando direitos, transformando vidas - O trabalho dos agentes de família foi muito mais além de um simples acompanhamento. Junto ao sindicato os agentes desenvolveram pesquisas que mapearam a situação do município relacionada a questões como educação, água, trabalho com sisal e outros. A partir deste trabalho o projeto Conhecer, Analisar e Transformar (CAT) chegou ao município. 

Para cada agente em especial, o PAF significou uma conquista. “Eu que não tenho nem o segundo grau completo e tive oportunidade de participar de cursos, me capacitar, aprender mais. Hoje sou diretora do sindicato devido a este trabalho” conta Margarida Silva, que também é coordenadora das agentes no município. 

Transformação também não faltou à vida de Jussara Silva e Aurelina Carneiro, mães que tiveram seus filhos contemplados pelo PETI e recebem acompanhamento da agente. Jussara tem três filhos no programa e sustenta a família com este dinheiro, assim como ela, Aurelina já teve uma vida muito difícil e não quer o mesmo para seus filhos. “Eu trabalhei muito desde criança com meus irmãos destocando pasto, fazendo todo trabalho de roça. Eram 19 irmãos, hoje os meus filhos não trabalham devido ao PETI, que foi uma coisa muito boa que apareceu em nossas vidas”, conta.  

Garantir a cidadania através da informação de como obter um registro civil, uma vacina, são formas de proporcionar uma vida mais saudável, mais digna às crianças. Ajudar as famílias a conhecerem os direitos e deveres de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que está completando 17 anos, fiscalizando o bom uso da bolsa para uma alimentação de qualidade são os principais objetivos desse projeto. 

Mesmo o projeto não existindo nos demais lugares, para Eliana Carneiro que já foi coordenadora é gratificante perceber o quanto a mentalidade das pessoas se transformou a partir deste trabalho. “Foi muito importante porque mostrou que a família tem direitos e que é um potencial para ir em busca da garantia destes. Ela hoje é capaz de exigir não só seus direitos, mas cumprir seus deveres também. Sabe onde ir em busca deles, porque o projeto agentes de família foi este elo de ligação e informação entre as famílias e os serviços municipais, dando à elas o acesso que antes não sabiam que poderiam ter” .


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