Publicações
- Inicial
 - Publicações
 - Experiências
 
Plantando e colhendo saberes agroecológicos
05/08/2006
										Na pequena comunidade de Rocinha a três quilômetros 
    da sede do município de Teofilândia, Região Sisaleira 
    da Bahia, fica o sítio Quilombos onde chama a atenção 
    a diversidade de produção. O agricultor Antônio José 
    de Moura, conhecido por Antônio Pintado, vem mudando há uma década 
    as técnicas de produção tradicionais, adequando-se à 
    agroecologia, uma ciência que propõe um conjunto de princípios 
    e metodologias participativas que apóiam o processo de transição 
    da agricultura convencional para estilos de agricultura de base ecológica.
    
    Em 30 tarefas de terra, toda a família de Antônio se envolve 
    na produção de alimentos para consumo próprio e comercialização 
    em pequena escala, mas com grande diversidade e técnicas bem simples 
    garantindo uma boa renda, trabalho para a família na própria 
    terra e a permanência no campo com dignidade. “O povo fala aqui: 
    Antônio sempre tem dinheiro, não falta nada na casa dele. Mas 
    isso é fruto do trabalho da minha família. Pra quem quer trabalhar 
    na roça não falta nada, tem trabalho todo dia”, explica 
    Antônio.
    
    Produção diversificada - A 
    adubação do solo é natural e feita através da 
    utilização de vários tipos de resíduos, como esterco 
    e folhagem. Para evitar a contaminação das águas e dos 
    alimentos e a eliminação dos inimigos naturais dos parasitas, 
    o agricultor não utiliza agrotóxico para garantir o equilíbrio 
    do ecossistema. A água utilizada na propriedade é captada durante 
    as chuvas e quando há necessidade recorre à água canalizada 
    que passa na propriedade. 
    
    A produção animal é diversificada e varia entre porcos, 
    ovinos e bovinos, porém em quantidade bem controlada, o que demonstra 
    um bom planejamento do sítio. Por isso, não falta alimento para 
    os animais, pois o produtor prepara cuidadosamente o feno e silo para as épocas 
    de estiagem. “O número de animais é controlado. Aqui eu 
    não me aperto porque tenho a ração guardada e não 
    deixo aumentar o rebanho”, conta o agricultor. 
    
    O cultivo consorciado de plantas com diferentes necessidades nutricionais 
    também é praticado pela família, a exemplo do plantio 
    conjunto de milho e feijão, capim e feijão, palma e feijão, 
    e outros. O pomar da propriedade tem uma grande variedade de frutos e gera 
    alimentos saudáveis e muito procurados pelo comércio local, 
    tais como manga, mamão, tamarindo, tangerina, goiaba, limão, 
    laranja, pinha, caju, acerola, banana, maracujá e outros. Além 
    disso, a família mantém uma horta com tomate, pimentão, 
    alface e coentro. 
    
    Produção, assessoria e investimentos 
    – No sítio Quilombo, a produção 
    de feijão, milho e farinha chega a uma média de 40 sacas por 
    ano, garantindo o consumo da família, a venda e a manutenção 
    do banco de sementes construído pelo agricultor. Tudo isso é 
    acompanhado e animado de perto por uma Jovem Multiplicadora de assistência 
    técnica do Projeto 
    Prosperar e um técnico agrícola do Movimento de Organização 
    Comunitária (MOC).
    
    Na metodologia da agroecologia adotada pelo MOC, o saber científico 
    soma-se ao saber tradicional e as inovações das famílias 
    agricultoras. Os Jovens Multiplicadores são capacitados para promover 
    a troca de saberes com agricultores e agricultoras por meio de visitas a diferentes 
    experiências, buscando novas informações e assim colaborar 
    com a experimentação de práticas agroecológicas 
    e de convivência com o semi-árido. 
    
    Troca de experiência - 
    A jovem Cleide de Jesus, 22 anos, faz visitas constantes à propriedade 
    de Antônio Pintado e sua família e está satisfeita com 
    a experiência. “Eu pensei que seria difícil chegar aqui 
    e encontrar uma experiência dessa de dez anos, mas não houve 
    resistência da parte dele. Foi aqui que eu aprendi a prática. 
    Foi com ele, através dessas visitas, que aprendi muita coisa nova e 
    assim vamos fazendo essa troca de saberes”, conta. 
    
    Segundo Abimael Passos, técnico do MOC, o agricultor é uma pessoa 
    bem esforçada e merece novos investimentos. “O sítio já 
    virou um espaço para demonstração de ações 
    agroecológicas servindo para realização de cursos e encontro 
    de agricultores familiares da comunidade”, afirma o técnico. 
    
    
    Com apoio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) 
    Antônio fez um empréstimo de R$ 4 mil e aplicou na melhoria do 
    rebanho, compra de equipamentos agrícolas e construção 
    de cercas. “Foi muito bom, esse dinheiro me ajudou muito. Se eu tivesse 
    outros projetos desse fazia ainda mais. Pra mim o que falta aqui é 
    só isso - mais recurso para investir no que eu tô fazendo”, 
    declara.