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"Somos as Sementes da Resistência"
14/08/2018
Como
falar de sementes da terra e não compreender sua importância, diversidade,
cultivo, alimento, origem, identidade e contexto?
O
Intercâmbio entre agricultores e agricultoras para troca de saberes,
resgate cultural e preservação das sementes da terra, se lançou como semente
entre os 55 agricultores e agricultoras presentes, nessa terça-feira, 14 de
agosto, na comunidade do Brejo, município de Conceição do Coité.
A
comunidade foi beneficiada com uma casa de sementes comunitária pelo Projeto
Sementes do Semiárido, desenvolvido pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC)
em parceria com a Articulação do semiárido (ASA) em 2015. A partir dessa ação a
comunidade vem despertando e aflorando sentimento de solidariedade e partilha,
caminhando lado a lado às famílias estão conseguindo preservar e
multiplicar as sementes que estão sendo cultivada há mais de 15 (quinze
anos), vindos de seus pais e mães passados anos após anos garantindo a
conservação, preservação e produção das sementes da terra, na sua diversidade e
origem em meio ao Semiárido baiano.
Como
forma de mostrar suas experiências a comunidade do Brejo abriu as portas para
outros tantos guardiões e guardiãs das sementes crioulas, agricultores/as
e jovens das comunidades de Boa Vista, Lagoa Ferrada, Cansanção, Açude de
Aroeira e Riacho do Morro todas de Conceição do Coité e demonstram
através bata de feijão as cantigas, danças e troca de
conhecimento em celebração da multiplicação das 08 (oito)
variedades de feijões colhidos nas roça comunitária como resultado da
comunhão e solidariedade dos processos coletivos e importante para a
comunidade de Brejo.
Seu
José Donato Souza, morador da comunidade do Brejo, alegre com a participação no
intercâmbio demonstra sua satisfação em ser um guardião de sementes crioulas.
“Ave Maria!, é um maior prazer. Minha semente é assim: as vezes eu planto, as
vezes dá um litro, dois litros, eu guardo. Se dé dez litros eu como cinco e
guardo cinco e nunca perdi a semente do meu feijão. Tem semente lá que tem mais
de quinze anos”. E complementa, “eu não vou vender comida minha não, e é eu que
‘tô’ plantando”.
Segundo
a Coordenadora do PAPAA, Ana Dalva Santana, “o objetivo da atividade foi trocar
experiência entre agricultores/as nas comunidades rurais através das práticas
que eram cultivadas pelas famílias com foco na identidade, tradição e no
resgate cultural como: mutirões, os cantos e trabalhos comunitários, além de
compreender o manejo, armazenamento na perspectiva da conservação e na
multiplicação das sementes da terra”.
Ao
som de batuques de samba, místicas, discursões, experiências, saberes culturais
e populares, o intercâmbio aconteceu para dá visibilidade as ações
desenvolvidas por esses/as agricultores e agricultoras, assessorados pelos
técnicos no município, Erivanilson Silva e Urias Rios, do Programa de
Água, Produção de Alimento e Agroecologia (PAPAA) do MOC.
Os/as
participantes realizaram uma linda e divertida bata de feijão, com batuque e
cantos onde pôde emocionar várias pessoas presentes. “A importância de
preservação dessas sementes é a demonstração para esses jovens e hoje, essa
bata de feijão, mostrando que essa cultura não acabe”, ressalta seu Otacílio
Gomes dos Reis.
“Pra
mim é umas das coisas mais importante, do tempo do meu pai, meu avô, ainda
tinha mais de dez mulheres para cessar o feijão, era uma maravilha e a gente
‘tá’ vivendo tudo isso hoje”, disse dona Maria Benedita da Silva.
Jovens
presentes ressaltaram a necessidade da inserção de mais jovens nos movimentos
populares e culturais. A exemplo, Marcos de Oliveira, da comunidade de
Cansanção pontuou “é muito interessante ver uma cultura que ‘são deles’ e que
está se perdendo e agente aqui hoje está representando a maioria dos jovens
para não morrer a cultura”.
As
sementes da terra sempre estiveram com os/as agricultores/as. Sendo cultivadas
e selecionadas ano após ano pelas famílias, são adaptadas às condições da nossa
região e aos sistemas de produção.
O
dia de hoje foi uma experiência inesquecível. As sementes da terra
proporcionaram esperança, garantiu a coletividade e possibilitou que a luta não
é vão, dando significando a canção: “Põe a semente na terra, não será em vão;
Não te preocupe a colheita, planta para o irmão”, entoando o grito de luta pela
igualdade e justiça: “Nós somos a semente da resistência”.
Por: Kívia
Carneiro
Comunicóloga
Programa
de Comunicação do MOC