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Oficina reforça vínculo de crianças e adolescentes com a rádio poste da comunidade
04/05/2018
A rádio poste da comunidade quilombola Maracujá, em Conceição do Coité,
no território do sisal da Bahia, instalada na Escola Municipal Emério Resedá,
teve mais um incentivo para que os/as moradores/as participem da gestão e
produção dos conteúdos divulgados na comunidade em alto-falantes: uma oficina
de rádio com adolescentes da comunidade e crianças da própria escola, no início
de março passado. Veja aqui uma rápida entrevista que Jonas, um dos participantes da
oficina, gravou com Valdívia por iniciativa deles.
Em novembro de 2017, a comunidade Maracujá conquistou a rádio poste por
meio do projeto “Esportes Cooperativos: Inclusão Social, Construção de Saberes
e Cidadania no Semiárido” do Movimento de Organizações Comunitárias (MOC) com
apoio da Unesco/Criança Esperança. Jovens monitoras deste projeto nos
municípios de Santaluz e Retirolândia, vizinhos a Conceição do Coité, também
participaram da oficina.
“A rádio poste é uma tecnologia social de comunicação comunitária que gera um
processo de mobilização e inclusão das pessoas na comunidade. Ela rompe com o
modelo de comunicação autoritária onde as pessoas são meramente receptoras das
informações e adota um padrão democrático e participativo de produzir a
comunicação, na qual as pessoas comunicam, se comunicam e são comunicadas.
(...) Esse processo altera as velhas relações de poder e constrói localmente
novos paradigmas de convivência, de fortalecimento da comunicação na comunidade
e de gestão democrática da mídia local”, destacou a Coordenadora Pedagógica do
MOC, Vandalva Oliveira.
Além da rádio, a escola de ensino fundamental tem também uma cisterna de 52 mil
litros, que armazena água da chuva para consumo da comunidade escolar. Junto à
cisterna, chegou também para a instituição capacitações para as professoras,
diretoria e merendeiras em educação contextualizada. Estas ações fazem parte do
Programa Cisternas nas Escolas, da Articulação Semiárido (ASA), e executadas no
território sisaleiro da Bahia pelo MOC, que faz parte da ASA.
A oficina - E, por ser uma escola estruturada com cisterna e rádio
poste, a Emério Resedá foi escolhida para sediar a oficina de rádio, outra
atividade do Programa Cisternas nas Escolas. Três comunicadores da ASA-BA,
vinculados às organizações da articulação, facilitaram a oficina com metodologias
participativas.
“Eu vou dizer, eu vou falar, não tem lugar melhor pra morar/ Não tem
lugar melhor pra morar, do que o quilombo do Maracujá/ Do que o quilombo do
Maracujá!”, ressalta os versos da música escrita e entoada pelo comunicador
Juliano Villas Boas, da organização Casa. Esses versos foram cantados muitas
vezes durante a oficina pelos participantes da oficina, principalmente, as
crianças que também tocavam instrumentos percussivos.
A oficina foi uma oportunidade de reunir alguns sujeitos da comunidade –
crianças e adolescentes – para conversar sobre a comunicação de uma forma muito
prática e real e também de debater sobre o uso da rádio poste. De quem é essa
rádio?
Na oficina, foram construídos três programas chamados de Saberes do Maracujá
como exercício prático de produzir, gravar e editar produtos de áudio. As
crianças e as adolescentes se tornaram entrevistadores, entrevistados,
compositores de músicas e leitores de história. As jovens ficaram como
monitoras das equipes de reportagem e editoras dos áudios.
Memórias do samba de roda, preservação do lugar onde vivem e a história da
comunidade foram os assuntos escolhidos pelas equipes. Mesmo sendo programas
experimentais, a proposta é que sejam veiculados na rádio poste como forma de
socialização de um dos resultados da oficina, para que os/as demais
moradores/as escutem e conheçam o resultado da oficina.
Na noite do primeiro dia, houve exibição do documentário “O Semiárido Contado
por sua Gente” e depois uma conversa sobre as experiências de comunicação
popular contadas no vídeo, principalmente, aquelas que traziam vivências com
rádios comunitárias.
Contexto social - A titulação da comunidade Maracujá como
quilombola ocorreu depois de lutas pela garantia de direitos, sendo certificada
pela Fundação Palmares no dia 04 de junho de 2014, junto ao Governo Federal e o
Ministério da Cultura. Alguns dos desafios que a comunidade tem enfrentado,
localizada no Semiárido, são: pouca disponibilidade de água e concentração
deste recurso nas mãos de fazendeiros.
Foi no ano de 2003 que as cisternas de consumo começaram a chegar para um maior
número de famílias da comunidade, já que apenas três delas já tinham
conquistado o acesso à tecnologia social para guardar água de consumo familiar.
Atualmente todas as casas da comunidade têm cisterna de primeira água, que são
abastecidas por carros-pipas semanalmente nos períodos longos de estiagens.
Mais tarde, já em 2015, a comunidade também conquistou uma cisterna de 52 mil
litros para a Escola Ernesto Simões, tecnologia que foi construída a partir do
Programa Cisternas nas Escolas da ASA, possibilitando a manutenção das
atividades da escola durante o ano letivo, com o acesso à água para beber e
cozinhar.
Na comunidade, a garantia de políticas sociais para implementar ações e
tecnologias para a Convivência com o Semiárido é fundamental, pois a renda
local é gerada principalmente pela agricultura familiar em plantios da época de
chuva como milho, feijão, mandioca - que é beneficiada em farinha, e outros
alimentos. Sendo que a produção mais forte sempre foi o cultivo e
beneficiamento do sisal, que é comercializado em fibra. Em tempos de inverno,
mesmo em meio ao desafio de buscar água para produção em aguadas distantes, as
famílias também se dedicam à produção de hortaliças para o consumo, e venda do
excedente na Feira de Conceição do Coité/BA. Há ainda criação de animais de
pequeno porte que também contribui na renda familiar.
Por Luna Layse Almeida e Robervânia Cunha*
* Comunicadoras da COFASPI e do MOC, organizações da ASA-BA.