JAPES re-constrói saberes e experiências do semi-árido

30/08/2004

Cinco mulheres da comunidade rural de Bastião, a 20 km da sede do município de Retirolândia em plena região sisaleira da Bahia, trocaram o trabalho pesado e perigoso nas plantações e batedeiras do sisal para uma nova atividade: Utilizando ervas e pimenta das próprias hortas, elas criaram um tempero especial que no início de agosto ingressou na lista dos produtos da "Cesta do Povo", rede de mercados populares mantidas pela Empresa Baiana de Alimentos (EBAL).

O início desta história de sucesso se relega ao ano 2002 quando cinco mulheres da comunidade formaram um grupo de interesse do "Prosperar", projeto de desenvolvimento econômico e social do Movimento de Organização Comunitária (MOC) de Feira de Santana, em parceria com a antiga Secretaria de Ação Social (SEAS), hoje integrada ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome do Governo Federal, e a Secretaria do Trabalho e Ação Social (SETRAS) do Governo Estadual.

"Tomamos bastante cursos e começamos a desenvolver a nossa própria versão do tempero", conta Isabel Irene Cerqueira, uma das integrantes do grupo, relembrando a situação anterior ao trabalho com o tempero. "Antes, trabalhávamos no motor do sisal. Era difícil demais, tomávamos muito sol quente e muito esporro dos donos do motor. Naquela época, os nossos filhos faltavam muito na escola."

Hoje, o grupo dispõe de uma casa própria onde o tempero é processado, embalado e armazenado. A casa, construída com recursos do projeto Prosperar, da associação comunitária, da prefeitura de Retirolândia e de contribuições do próprio grupo, garante perfeitas condições de trabalho e higiene. Com a recente inclusão na lista dos fornecedores da EBAL o grupo conseguiu triplicar a sua produção, chegando a 4.500 potes por mês o que representa uma renda adicional de meio salário mínimo para cada trabalhadora, além do auto-estima elevado pelo reconhecimento do seu trabalho.

Destacando o aspecto de geração de renda numa região com poucas opções de emprego além do trabalho no sisal e da caprino-ovinocultura, Gisleide do Carmo Oliveira, técnica do programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar do MOC, conta que a idéia de oferecer uma capacitação na fabricação de tempero foi logo bem aceita pelo grupo de Bastião. Ela destaca a união e capacidade de organização das mulheres que - ao contrário de outras iniciativas deste tipo, baseadas no trabalho de famílias individuais - fez elas conquistarem em pouco tempo os mercados locais de Retirolândia e Valente.

O contrato com a EBAL foi o último passo para garantir a sustentabilidade da produção do Tempero Natural Prosperar. O próximo desafio será a formação de uma cooperativa que possibilite a redução da carga tributária de 20% que pesa em cima do tempero comercializado no comércio oficial.