MMTR contribui com a permanência no campo

07/11/2007

O semi-árido, caracterizado pelo fenômeno da seca, pelo cenário rude, de chão calcinado e mulheres carregando latas de água na cabeça, é também cenário de uma das mais bem-sucedidas experiências de organização feminina: O Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR). Um espaço de construção, mobilização e defesa dos direitos civis, políticos, sociais e econômicos das mulheres.  

Criado em 1984, desde o início o MMTR conta com a força e a determinação de Maria Madalena dos Santos, uma das principais lideranças do movimento social na Região Sisaleira. Nascida no município de Araci, D. Madalena - como é carinhosamente conhecida - não teve a oportunidade de estudar, no entanto, a vida tem sido até hoje a sua melhor escola. O trabalho com o movimento social aconteceu por acaso, a partir de um curso em primeiros socorros. “Foram nestas capacitações que eu despertei para a necessidade de estudar a questão das mulheres e passei a integrar o MMTR”, revela.

Assim como Madalena, contribuíram para a construção desta história outras tantas mulheres que se doaram, e têm dedicado à vida à organização das mulheres. Trabalho que já alcançou resultados importantes, como a garantia dos direitos na Constituição Federal. “Graças às mulheres e ao movimento social, que juntos lutaram por um só objetivo, foram garantidos os direitos para as trabalhadoras e trabalhadores da zona rural”, conta.

Encontro de duas gerações – “Entrei na luta, da luta eu não fujo, pela igualdade, da luta eu não fujo, pelos direitos, da luta eu não fujo, para construir uma nova sociedade...”. Nos versos da música, a marca do MMTR: A luta. Luta pela equidade de gênero, pela valorização das mulheres, por uma sociedade mais justa. 

E foi ouvindo músicas como esta que a jovem Andréia Santos Pereira, 20 anos, despertou para o trabalho do grupo. “A primeira vez que ouvir falar em MMTR foi em uma reunião no município de Santa Luz. Ouvir D.Raimunda cantar e aquilo foi me mostrando como era interessante participar de uma organização em que mulheres discutem o papel da mulher”. 

Com apenas quatro anos atuando no Movimento de Mulheres, a jovem liderança fala com orgulho sobre o papel de multiplicar informações no pequeno município onde vive. “Nós multiplicamos o pouco que temos, com o pouco que existe na comunidade, e aí formamos um nicho de conhecimento construído, o que é mais interessante”. 

Organizadas, as mulheres elevaram a sua auto-estima, adquiriram autonomia e empoderamento. Tudo isto sem perder a essência de ser Mulher. 

Mulheres como protagonistas – Em 23 anos de história foram muitas as conquistas e também os tropeços. No entanto, as integrantes do grupo nunca desanimaram e enfrentaram o preconceito, a saudade de casa quando precisam ausentar-se, a resistência da família. O MMTR deu às mulheres um motivo a mais para permanecer no sertão. 

E acreditando nisto, no ano de 2006, elas conseguiram a institucionalização do grupo. Com estatuto aprovado e diretoria eleita, tornaram-se independentes e protagonistas das próprias ações. 

“A institucionalização representou o registro de um filho. Uma criança quando nasce precisa ser registrada para existir legalmente e poder ter acesso a benefícios. Com o movimento não foi diferente”, afirmou Madalena.   

Através de capacitações e organização, as mulheres do movimento construíram elementos que possibilitaram a participação em espaços importantes de discussão, como o Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável (CODES Sisal) e a participação no Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que prioriza a mulher como chefe de família. 

Histórias que se completam – Quando Madalena iniciou o trabalho no movimento, Andréia ainda não havia nascido, no entanto, o desejo de mudança, de ver uma sociedade onde a mulher rural tenha uma boa representação, fez com que elas se encontrassem. 

Para Madalena, acompanhar e ajudar a construir a história do MMTR surgiu da necessidade de ver o movimento social crescendo em busca da cidadania. “O que me fez permanecer no MMTR foi o sonho de dias melhores, de uma sociedade mais justa e igualitária”. Para Andréia, atuar no movimento permite o crescimento pessoal e coletivo. “Mobilização resume bem o que eu tenho feito no MMTR. Juntas, nós estamos construindo um espaço novo e fortalecendo a nossa identidade enquanto mulher, enquanto rural”. 

A experiência do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais confirma o que já se sabe: O semi-árido é repleto de vida e de mulheres que conseguiram superar limites nunca antes imaginados.