Mulheres com o Bocapiu cheio

05/12/2006

“Antes a gente trabalhava em casa e na roça, mas só plantava as leiras no inverno. Hoje não, a gente começou a trabalhar e ganhar um dinheirinho. Estamos juntando para investir aqui mesmo”, conta Maria Raimunda Reis, uma das integrantes do Projeto Prosperar na comunidade de Jibóia em Conceição do Coité. Ela têm cinco filhos e diz que está feliz com a nova atividade.

As famílias vão à feira-livre vender seus produtos toda semana. Um dinheiro que representa uma vida melhor e independência. “O que tem aqui na comunidade para as mulheres fazer é só isso mesmo. São seis famílias envolvidas com a horta e a gente já vê os resultados”, completa a agricultora.

A produção das mulheres é diversificada e já tem comércio garantido devido à qualidade dos produtos. “A gente leva pra Salgadália, comunidade que fica há 2 Km daqui e lá vende tudo. Temos alface, coentro, pimentão, chuchu, tomate, cebola, repolho, couve, e muitas outras coisas”, comenta outra agricultora, Raimunda da Silva. Para ela, novas idéias empreendidas devem-se ao investimento na produção familiar agroecológica. “O Prosperar trouxe as hortas e as técnicas de trabalhar com agricultura familiar que nós não sabíamos”. 

Com auxílio de um técnico e uma jovem multiplicadora de assistência técnica rural o grupo faz parte de uma rede de agricultores familiares atendidos diretamente com crédito, assistência técnica e capacitações em agroecologia na Região Sisaleira. As produtoras contam ainda que a comunidade sofre com a falta de investimentos públicos e carece de infra-estrutura, educação e trabalho. “Aqui não tem telefone e nem água encanada. Chegou agora o Luz para todos do governo federal”, cita uma moradora.

Antes das cisternas do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) a falta d’água na estiagem faziam com que a comunidade fosse em busca de socorro na prefeitura. “Antes do projeto das cisternas a água aqui era só no carro-pipa. Quando o prefeito dava a “ordem” eles traziam a água de graça, mas quando não dava a gente que pagava do nosso bolso”, denunciam as trabalhadoras. “Hoje quase todo mundo aqui tem cisterna, só não tem quem ainda estava construindo a casa na época que o projeto chegou”.

O sonho das mulheres já está próximo de se realizar. Com a venda dos produtos elas querem adquirir um terreno para ampliação da horta. “Hoje a gente vende os produtos e com o dinheiro a gente compra novas sementes, mas também guarda um pouco no banco. A nossa vontade é ter um local mais apropriado para plantar, pois esse terreno aqui é da associação comunitária que também nos ajuda muito”, explica Raimunda da Silva.

Saiba mais sobre Agroecologia

A Agroecologia surge na década de 1970 como campo de produção científica e  ciência multidisciplinar, preocupada com a aplicação direta de seus princípios na agricultura, na organização social e no estabelecimento de novas formas de relação entre sociedade e natureza.

Ou seja, as práticas agroecológicas podem ser vistas como práticas de resistência da agricultura familiar, ao processo de exclusão do meio rural e homogeneização das paisagens de cultivo. As práticas agroecológicas se baseiam na pequena propriedade, na mão de obra familiar, em sistemas produtivos complexos e diversos, adaptados às condições locais e em redes regionais de produção e distribuição de alimentos.


O Prosperar

Criar condições de melhoria da qualidade de vida das famílias do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, é o grande desafio do Projeto Prosperar. A iniciativa busca promover alternativas de geração de renda na região, através da capacitação, assistência técnica e crédito aos pequenos produtores. Deste modo, se busca criar processos sustentáveis entre as famílias e, conseqüentemente, a garantia da manutenção das crianças na escola independente do Bolsa Escola.

O Prosperar começou a ser implantado em 2001 pelo MOC, em parceria com a Secretaria do Trabalho e Ação Social (SETRAS) e a Secretaria de Estado e Ação Social do Ministério da Previdência Social (SEAS). É, assim, um Projeto do PETI na Bahia que surgiu a partir da demanda das próprias famílias atendidas pelo Programa. A comunidade reivindicava alternativas viáveis de geração de renda para a Região. 
 
As famílias participam de capacitações para que possam com autonomia planejar e gerir sua propriedade, escolher os projetos específicos para os quais desejam financiamentos e, junto a tudo isso, obter outras capacitações que lhes garantam condições técnicas para a convivência com o semi-árido.